sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Recordações


Margarita Aliger (Margarita Iosifovna Aliger)
(Маргарита Иосифовна Алигер, 1915 - 1992)
O nome dela também é: "Маргарита Иосифовна Зейлигер"
Nasceu em Odessa, na Ucrânia.
De família judaica, de sobrenome Zeliger.

Poetisa soviética, tradutora e jornalista.
1934 -1937 estudou em Maxim Gorky Literature Institute.
Foi casada com o compositor Konstantin Makarov-Rakitin,
que faleceu, em 1941, na batalha de Yartsevo.

A sua obra poética compõe-se de 70 poemas (da série).
Tradução do russo, para o português, é
de Mykola Szoma.

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7. Recordações (Воспоминание, 1946)

... Na encruzilhada daqueles caminhos indiscutíveis,
vislumbra-se uma morada, no meio de úmidas sombras.
Em um dos quartos da morada, jaz morto o artista pintor,
-- Os vizinhos enrolaram todas as suas telas...

Maravilharam-se com as pesadas molduras
e -- com as inúteis desnecessidades suas,
refletidas nas insólitas curiosidades das estrelas;
Enquanto nós, viviamos felizes em nossos aposentos...

Como soa absurda essa frase da estrofe!
Viviamos felizes... Que palavras insanas!..
Pobres os ceus, dos espaços da Leningrado --
Mesmo sem proteção. o azul não deixou de brilhar...

Tu não soubeste meninutos sequer de sossegos,
Canhões bombardeando, condesando as fumaças.
Não se dá perceber o milagre? -- Os ceus não mudaram!
Enquanto os estrondos detonam, os ceus continuam azuis!?

Como posso querer entender um passado temido,
que a cidade viveu -- solitária, e sem testemunhos?
Não se dá perceber o milagre? -- Que a maldita "derrota"
transformou-se, em nós, numa força bendita?

Talvez naqueles tempos, não nos mataram
-- nem os obuses e nem as bombas dos inimigos,
Porque nós tínhamos a fé, porque nós viviamos e amavamos,
E porque era nos, por centenas de vezes, mais cara
aquela úmida primavera da Leningrado, que não permitiu
que a cidade tombasse sob os pés do inimigo...
Foi como que uma não terrena felicidade
inadvertidamente descesse sobre nós.

Por mais que sejam inúteis os teus vestígios,
mais generosamente queira mostrar-te -- O que tu és...
Muito cuidado, todavia! Como se fosse após uma doença,
o tilintar enfraquecido do seu último trâmuei.

Intumescem os rebentos dos novos ramos,
Os primeiros pálidos arbustos, tímidos se mostram...
Os navios em roupagens de telas camufladas,
Parecendo noivas reservadas, --
a espera dos noivos, para a travessia do rio Neva...

A cidade encerra em si: um sem fim de ventos --
Há os rascantes, há os suaves, há os frios e os quentes.
Porém, não há os ventos de fura-neve,
que pudessem imitar a cor celeste, da fria flor da neve

Por outro lado, podede-se comprar daquela starushka*,
que adivinha os pensamentos dos outros,
-- das ingênuamente enfeitadas suas "mãos",
"mortas" e secas flores sem vida.

E tu, coração meu! -- Pela vez primeira,
e talvez até o final dos teus dias,
Estarás perturbado, pelas flores secas,
na existêncial estada da tua sobrenatual vida.

Sem demora, ou lentamente nós atravessamos
-- todos os anos, das nossas perdas terríveis?
Não nos reconciliamos com eles; nós os vencemos!..
Portanto, podemos agora

Com a nossa própria vontade e com a nossa autoridade
Restauraremos tudo, o que a espada de fogo cortou-nos,
Recuperaremos tudo, o que o passado de nós quis roubar!
Jamais esqueceremos o passado que fomos,
a felicidade de sermos agora --
de podermos vitórias cantar!

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Nota:

starushka
-- Aqui, uma senhora idosa;
neste caso, presuma-se que ela vende flores artificiais.

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