sábado, 26 de janeiro de 2013

Cidade


Margarita Aliger (Margarita Iosifovna Aliger)
(Маргарита Иосифовна Алигер, 1915 - 1992)
O nome dela também é: "Маргарита Иосифовна Зейлигер"
Nasceu em Odessa, na Ucrânia.
De família judaica, de sobrenome Zeliger.

Poetisa soviética, tradutora e jornalista.
1934 -1937 estudou em Maxim Gorky Literature Institute.
Foi casada com o compositor Konstantin Makarov-Rakitin,
que faleceu, em 1941, na batalha de Yartsevo.

A sua obra poética compõe-se de 70 poemas (da série).
Tradução do russo, para o português, é
de Mykola Szoma.

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7. Cidade (Город, 1935)

Eu sonho sempre: a primavera na natureza.
Eu sempre sonho: contigo,
que és me mais caro do que a natureza,
e que ligeiramente sempre passas
pela estreita rua da minha casa.

Porém não; agora passaram os vizinhos...
Porém não; agora foram passos lá na esquina.
Quanto degelo e quantas são as 'gololeditsa-s'*
e quantas camadas de neve se interposeram entre nós!

Somente os meus lábios estão secos,
pois não rceberam beijos desde dezembro.
Apenas por outros sou amada,
que nem um pouco se parecem contigo.

Um deles anda pisando macio,
fala doces palavras e frases de amor...
A minha rua é sempre cortada pelos ventos,
que esbarram na entrada, entreabrindo os portões.

Com cuidado fecha a porta,
passa pelo assoalho, como se pisasse no gelo.
Então, como poderia eu confiar nele?
Então, como poderia eu segui-lo, indo com ele?
Então, nem um pouco me culpe.
Toda culpa aqui, somente é tua...

Para além do Lago,
além do Baikal de Irkutsk,
Por entre as nuvens,
incorpora-se a floresta de taigas.
E as nuvens cobrem os montes,
impelidas que foram
pelos ventos da primavera.

Do seio da taiga, emerge uma cidade,
parecendo uma floresta mais noa,
Errante eu prossigo, enchugando as lágrimas,
Procuro conhecer os ventos, nas minhas cercanias,
Levantando as mãos, que "enchergam" a sega escuridão.
Não. Não é preciso. Eu ouço e eu creio
no murmurinho silente das taigas
e no burbulhar da correnteza dos rios...

Um homem estranho,
na porta alta e forte,
virá um dia bater.
Trará flores fura-neve
-- um lindo buquê para mim.

Muitas absurdas e carinhosas
e poucas agradáveis palavras
ele dirá para mim.

Eu não darei-lhe um sorriso;
Direi-lhe apenas, não quero mentir:
-- Um tenho o meu desejado,
sem o qual já não posso viver. --
Darei meu olhar para ele, piscando:
Como eu posso pousar,
nos braços de um outro,
se o nosso amor já consegue erguer
cidade em plena floresta de taigas?

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Nota:
'gololeditsa'* (Гололедица)
-- camada de gelo (de neve congelada) que se forma
na superfície do solo.br>

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