terça-feira, 8 de janeiro de 2013
À porta
Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo
Tradução do russo por Mykola Szoma
(У двери, 1888
Посвящается А. П. Чехову)
À porta
Dedicatória para A. P. Chekhov
Certa noite de outono,
Ao atravessar o quintal vazio,
Eu me vi numa escadaria abrupta
Escalando-a, como se fosse um ladrão.
Mais a fundo, encontrei uma porta
Que acesso a algo, ela guardava --
Então eu bati. -- Querida!
Medo não tenhas... Sou eu...
Atraavés da janela quebrada, a neblina
Pelo sótão se espalhava,
O mau cheiro, na escadaria pairava,
E só a escuridão se movimentava.
-- Mais um pouco, e ela me atenderá,
As trêmulas mãos dela,
Sob a luz branda de um candeeiro,
Abraçarão o meu cansado peito.
E como antes era, no peito meu
Cabeça enclinará, dará suspiros,
E sua voz ardente e apaixonada
Irromperá e expirará...
Ela -- é meu amigo único,
Ela -- é todo o meu ideal!
De novo, bati à porta de madeira --
Espero que dessa vez ela me atenda.
-- Perdoa-me, permita que eu entre,
Eu tremo, anjo meu!
Estou muito cansado, estou martirizado
Pelas dúvidas e pela saudade.
Por muito tempo, assim bati à porta --
Bati, chamei o nome dela -- Ouvi
Atrás da porta, suspeitos passos
Que pareciam batidas do coração.
Estremeci e me senti todo gelado,
Fiquei sem fôlego...
-- És tu tal qual, -- Uma traidora!
Uma víbora ardilosa!
Duplamente tu... Mas, ...insensato eu!
Está na hora de eu despertar-me...
Fico esperando, por aqui, o meu rival
Até que o dia amanheça.
Tudo aquilo, mas tudo em que acreditei, --
Não teem valor nenhum -- Mentiras!
Será uma prova evidente e clara --
Não poderás mais enganar-me...
Sustei a minha respiração,
Parecia um agente secreto à espreita,
Nem eu próprio ouvia uma ruido mais leve,
De porta os rangeres, e
nem o falar de ninguém...
-- Que baixeza de uma desconfiança!
Mereceria essa culpa um perdão,
Se o prazer, de encontrá-la, fosse
A prova maior de ela estar só.
Então, aquietei-me em meu coração,
Entendi, que ela sentiu-se
Magoada, por demais, com a minha ação.
Não sem razão que, quando nos encontramos
Lá em baixo do escadarão,
Nos seus olhos, eu notei uma lágrima rolar
-- Era lágrima de ofensa e de dor.
Não fui eu, o orgulhoso e indiferente?!. --
Confessei-lhe, como um poltrão,
Que tenho vergonha do meu próprio amor,
Tenho vergonha de ser um pobretão...
Despertou-me a paixão conturbadora,
De saudade aniquilou-me o peito;
Perdoa-me! Deixe que eu parta --
Esqueca tudo o que um dia eu disse.
Mas não!.. De novo... outras suspeitas!..
Será a ventania, trazendo odores?
-- São ratos, por acaso? Ou... são vizinhos?
Não! -- Então, quem suspirou assim?
Penoso assim... São muitos sofrimentos
Suspira assim, a própria morte --
Que quando os seus acertos, com a vida,
Todos já foram feitos?
Infelizmente! Ninguém quer ensinar-nos
Amar, amar e ter as esperanças;
Porém, todos os males do veneno
Mesmo as crianças sabem aproveitar.
Ainda eu via o fantasma do cadável dela,
Via os seus olhos apagados
Expelindo uma apavorante reprovação --
Por uma lágrima, já seca na sua face.
Eu chorei, eu me debatia como um louco,
Eu via a sombra da minha bela,
Toda gelada e toda pálida,
Assim como é -- esse acinzentado dia.
Pelas frestas, da janela quebrada,
No espaço do sótão soturno
Os ceus, embaçados por nuvens espessas,
Espargiam a sua escuridão.
As chuvas gemiam seus ais doloridos,
Os ventos uivavam, feito animais...
Foi encontrado pelos serviçais e zeladores,
Tentando arrebentar o portal.
Percebendo, que estava ali um ex-morador
E, não sem motivo, sorriram --
Disseram que eu fosse embora. Que o morador
Não estava ali... Estava tudo vazio...
Eu vi-me perdido. Fechei-me em mim mesmo.
Por onde eu passava,
Parecia ser tudo -- vazio e frio...
Por alguma razão -- o passado sumiu...
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