sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Velho sazandar


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Старый сазандар)

Velho sazandar

A terra rachada, pelo calor do dia,
Da noite a neblina, não conseguiu refrigerar.
A Tiflis -- de multivarandas, dorme o seu sono;
Ali, a montanha escura e, mais além, o brilho da lua.

O rio Kura geme e murmura, debatendo-se
com as suas ondas vivas, contra
os despenhadeiros escuros dos rochedos...
Num daqueles rochedos, há uma modesta choupana,
Com um terraço e uma pequena varanda --
dependurada -- sobre a escarpa abrupta.

Ali eu poderia, sem perturbar a ninguém,
Estender os meus tapetes alcatifados,
Passar ali dias inteiros, em repouso tranquilo,
Olhar e admirar a cordilheira e suas montanhas:

Não se veem as montanhas --
O espaço todo revestiu-se de lilás neblina;
Vejo apenas a ponte dependurada,
Também a torre da mesquita,
E o álamo, baloiçando ao vento, trepida...

O meu patrão -- pouco me importa, franzindo a testa;
Verdade é, está contente em ser eu seu visitante...
Fico calado e ele -- sempre fumando,
Com o "papakh" na cabeça, escondendo até a testa...

Bigode cinza, olhar bravio e severo,
Semblante rígido; mas o calor das canções
Ainda guarda, em seu peito estraçalhado,
O meu -- envelhecido, antigo sazandar.

Tangendo -- com os dedos, de cobre as cordas,
Ele chora canções, as melodias do seu coração,
Capazes de, em revitalizando-se repentinemente,
Transformarem-se em ecos do meu coração!

"Reze, amigo! Assim fortalecerás o teu espírito.
Não chores... Por enquanto, todo este mundo
Ainda não ensurdeceu. E nem cego o mundo ainda ficou,
Tu és um visitante convidado para a "ceia do senhor".

Ainda temos o pão suficiente
E temos um canjirão cheio de vinho,
Não queira irritar os ceus, com os teus choros;
Saiba -- toda tristeza tua, não passa de pecado.

Observe -- ainda está sobre aquela rocha
A saklia pequenina, na qual tempos atrás
-- um meio século -- se foi, ao menos;
Meus olhos invejavam, ao coração querido,
Aquele olhar puro. Jamais será esquecido!

O mundo de então era menor, assim me parecia;
Então morria, quando atravessar eu não podia --
Durante os festejos, em nome de alguma canção,
Os umbrais daquela pequena choupana -- saklia.

Acompanhado por um velho tchinguri
Na entrada, do quintal da moradia,
Como um pássaro -- depois da tempestade,
Eu cantava o meu hino poético de elogios.

Hoje eu sou idoso; Ela -- de mim distante!..
Onde está? -- Não sei; Porém, creia-me,
Mais longe está aquele, por quem tu sofres
Por quem sentes o desgosto de saudade agora.

O sofrimento teu -- está além daqueles montes,
O teu amor -- ficou perdido na terra pátria;
O meu amor -- está voltado para as estrelas --
Está à minha espera, junto a deus, no paraiso!"

Calou-se sombriamente o starik velho;
Deitou-se sobre o tapete alcatifado --
Ouvindo atento, a cada pensamento seu,
De como -- sob o paredão das rochas,
Geme e murmura, debatendo-se o rio Kura.

Ele possui mais tempo para sonhar...
E eu?.. Eu nada lhe direi. Ó, não!..
O coração do visitante não se apega
A ninguém destas montanhas... Não!..

Sinto-me triste neste mundo enorme;
Penso que sou um visitante indesejável,
Aqui -- onde todos se reuniram para
Satisfação dos desejos de "comes e bebes";

A dádiva do canto meu, me apavora, --
Não há quem possa ouvir os meus cantares,
Penso que na velice, talvez não haja
Alguém quem possa esperar-me no paraiso!

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Nota:

Sazandar
-- Músico ou o cancioneiro popular,
em Azerbaidjan, Armênia, Geórgia e Irã.
Kura
-- É o maior rio da Transcaucásia,
que banha Azerbaidjan, Geórgia e Turquia.
Tem uma extensão de 1364 km e desmboca no
mar Cáspio.
Papakh (papakha)
-- Gorro feito de pele de animais
e com parte superior em tecido.
saklia
-- Casa dos montanheses do Cáucaso.
tchinguri
-- Instrumento de cordas

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