segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ouço


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Слышу..., 1865)

Ouço

Ouço, da minha vizimha,
de trás da parede,
fortes e alegres rizadas;

Uma voz jovem está chorando --
De trás da minha parede sem alma;

Eu ouço como que uma alma de alguém,
Em forma de sons, de instrumentos de corda,
-- O coração de alguém, chega aos ouvidos meus...

Atrás da parede, há uma voz cantante --
Espírito invisível, -- tendo vida, porém --
Porque penetra o meu canto, sem uma porta aberta,
Porque sem palavras, também no silêncio da noite,
Pode, em mim, produzir um reflexo de um eco,
Que se torne uma alma de outrem.
Uma alma de outrem, que se instale em mim.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Satar


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Сатар, 1851)

Satar

Satar! Satar! O teu choro, um grito gutural --
Soluçante, ensurdecedor, molhado, um grito selvagem --
Sob os sons de tchianur e sob os tamborilados dos tambores
Estraçalou-me o coração e penetrou fundo na minha alma.

Não sei o que tu cantas; porque não entendo as palavras;
Desde a infância, acostumei-me a uma música bem diferente;
E tu estás cantando a noite inteira, sobre o chão de terra,
E a Tiflis toda dorme calada -- Porém, eu te escuto,
Como se eu fosse um teu irmão adoentado -- lá no oriente --
Ouvindo as tuas recriminações, ou os meus próprios queixumes.

Eu não sei o que tu cantas --
Pode ser uma canção de Kiaram,
O cantor do amor ardente,
que foi queimado pelo próprio amor;

Talvez, podes estar chamando-me para vingança
-- cobrando sangue pelo sangue, ou
Talvez ainda, tu estás glorificando
a espada do Islam -- Daqueles dias,
durante os quais tremiam,
diante dele, as trevas negras da escravidão...

Não sei, --
Ouço apenas lamentos e clamores --
Para entender, eu não preciso de palavras. Não!

------------------------------------------------------------

Nota:

Tiflis -- Tbilisi, é a capital e maior cidade da Geórgia;
que até 1936, era oficialmente chamada de Tíflis.
Satar -- Nome de cantor persa em Tiflis.
tchianur -- Um tipo de violino da Abkhazia (Geórgia)

sábado, 29 de dezembro de 2012

Deveria contar- te


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Рассказать..., 1864)

Deveria contar- te?

Deveria contar- te,
de como um amigo teu
sepultou o seu coração,
Todos os seus amigos
-- ele convidou -- para
os suntuosos funerais.
Também ali estava ela,
-- ele convidou...

Na hora da missa de réquiem,
Ao brilho de luzes e de velas,
Ao redor do coração abatido,
Uma multidão de convidados
e de diversas visitas.

Ela estava lá -- sempre aquela
Bondosa, gélida e prestimosa,
Ele a cumprimentou sorrindo;
Sem dar-lhe atenção,
Calma, ela entrou.

Será que ela entendeu, o que
-- nesse dia, se passava
na alma dele?.. Ou se,
do coração morto, sobre ela
pairavam apenas as sombras
de um silêncio?

Talvez, ela medo tivesse que
O coração tolo ressuscitasse
-- E de novo tormentos, de
felicidade, lhe causasse, --
Em troca de um puro amor,
mais amor desejasse!

Em homenagem, ao coração falecido,
Um forasteiro, a "Marcha Fúnebre"
executou... O piano tocava --
As cordas tangiam, e cada som,
que pelos ares se expandia,
aos ouvidos parecia que chorava...

As lânguidas damas, em silêncio,
entrecortavam os seus olhares, --
Demonstrando terem sentido a dor,
-- Pareciam terem comido figos e
terem bebido orchata.

Todos os homens estavam, ao longe,
-- De soslaio, olhavam às damas,
Acendiam as suas cigarrilhas e
Fumavam, junto da porta, o insenso.

Um brincalhão, uma parábola contou
-- em homenagem póstuma... Brincou!
-- Um conto triste. -- A parábola,
porém, muitas rizadas provocou...

Duas horas mais tarde, a todos, --
foi servido um nutritivo antepasto,
Recusar-se a saboreá-lo, ninguém
podia... -- Era uma homenagem justa
ao coração partido. Deveriam provar
-- Teria sido o pirog bem cozido?

Finalmente, e graças a deus,
Muita champagne "abrilhantou a festa"
-- Sem lamentações, com exuberância e
com grande vozerio e barulho --
O meu amigo sepultava o seu coração.

-----------------------------------------------

Nota:

orchata -- ou chufa, é o nome dado
a uma bebida de origem vegetal não
alcoólica consumida principalmente
na Espanha. É produzida com água,
açúcar e os tubérculos da junça.
É servida gelada, como um suco,
em geral acompanhada de fartós,
uma espécie de biscoito em forma
de bastão, que é comido embebido
na chufa.
pirog -- tipo de pastelzinhos
(cozido, não assado). Podem ser
salgados (carnes, legumes, repolho)
ou doces (frutas diversas, uvas,
cerejas, etc.).

Obs.:
O velório, entre os eslavos, é sempre
"festejado" com "bebes e comes".

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Moradia dos gaviões


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(... жилище орла)

Moradia dos gaviões

Ruinas da torre, moradia dos gaviões,
Despontam do alto daquele cinza rochedo.
Parecem tentando cair ao fundo do mar,
Assim como um velho já cansado, que
estivesse vergando sob o peso
do seu fardo precioso...

Já há muito, aquelas ruinas, vislumbram o mar,
Por entre as frestas, dos surdos desfiladeiros
-- lá onde, só os ventos uivantes sussurram;
E aquelas ruinas começam ouvir: Risos felizes,
relinchar e tropel de cavalos.

O cinza rochedo aprofunda o olhar seu ao mar, --
Lá, os ventos balanceam a corrida das ondas,
Lá -- no centilar do brilho enganoso das ondas,
Vozes se houvem do faiscar dos de guerra trofeus.

Abelha


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Пчела, 1855)

Abelha

Abelha, que sucumbiu com as últimas flores,
Não foi em vão que com os puros favos de âmbar
Tu, com auxílio de tuas irmãs, a colmeia enfeitaste.
Aquela mão, que de ti cuidou um ano inteiro,
Enriqueceste com a mais doce dádiva com que pudeste.

E eu, a colhedora dos frutos de lindas floradas --
dos campos divinos do senhor,
Bem de manhã cedinho, antes da estrela emergir,
feliz retornei àquele querido jardim;
Ali encontrei, simplesmente vazia a minha colmeia...
E lá, onde o girassol florescia -- só cresce urtiga,
Onde deixarei -- eu agora, este meu fardo valioso...

O pássaro


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(ПТИЧКА)

O pássaro

Sobre os campos um ar puro...
Um silêncio envolveu tudo,
E o cantar, de um passarinho,
Forte se propaga pelo espaço.

Esse pássaro tem seu abrigo,
Também tem a sua companheira
Passa dias seus na várzea --
Na grama verde, orvalhada...

Lá nos ceus -- não para os ceus,
Há infindas preocupações reais,
Cá na terra, não pelo alimento,
O passarinho canta suas canções.

Escutando o canto do passarinho,
Por vezes, sinto-me com tédio...
Envergonho-me da minha inveja --
em meu coração orgulhoso! -- Da
liberdade do pássaro da várzea!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sombras da noite


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Пришли ... тени ночи, 1842)

Sombras da noite

Chegaram as sombras da noite.
Ás minhas portas se postaram!
Também ela chegou!
Com valentia me encara;
Seus olhos brilham -- mais negros
do que a própria noite.

Aos meus ouvidos chegam murmúrios
-- Os seus cabelos amarrotados --
pela negligente mão minha,
Na minha face batem como serpente.
Eu amolguei os seus cabelos,
dando-lhes a forma de aneis.

Demoramos a noite inteira!
A escuridão total que cubra
O mundo das magias do amor!
E tu -- Ó, tempo! Com a mão senil
Interrompa as batidas do relógio!

As sombras da noite partiram,
Correndo -- no embalo, para trás.

Os olhos dela, estupefatos agora,
Ora fitam os meus, ora não;
A mão dela, em minhas mãos gelou.
Envergonhada, ao meu peito,
o seu rosto ruborizado reclinou...

Ó sol, do novo dia!
Tenha paciência.
Aguarde por mais alguns minutos!..

Natal


Natal! --
Brilho de luzes
que se apagam com o tempo.

Gigantes árvores iluminadas!..
Por dentro, folhas que secarão,
após vencerem os dias de festejos!

E nada deixarão atrás de si --
Bolas de vidro coloridas
Também se quebrarão. E juntas,
com a branca "neve" de algodão
-- em qualquer cesta de lixo,
do natal que fizeram,
nem ao menos recordarão.

Garrafas vazias
-- de vinho, ou de Champagne,
francesa ou nacional...
Não importa! O resultado
é sempre o mesmo. É igual!
Apenas um festejo de natal...

Cartões?..
Amarelecidos pelo tempo,
como apenas lembrança;
Porém, não para todos,
Somente, aos que -- por sorte,
são mais favorecidos!..
São mais irmãos que os outros,
Teem suas ceias e com louvores
recordam -- em orações, apenas
-- aqueles, os menos "humanos"
porque são menos favorecidos!

"Calor humano" lhes basta!..
-- Que deus os faça
mais enobrecidos...

Os muitos que não a teem
Nem esperança mais encontram!
Com a muralha do "calor humano"
se defrontam. É tudo
O que lhes resta. -- Talvez,
por uma fresta de vidro quebrado,
poder sonhar, ao menos
com um pedaço de vidro
da bola colorida de natal
-- Na lata de lixo encontrado...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Ao poeta cidadão


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Поэту-гражданину)

Ao poeta cidadão

                   Ao cidadão de alma ingênua!
Receio, o ameaçador verso teu a sorte não abalará.
A macambúzia multidão, à conclamação da tua voz
                   Não responde ecoando, vai te seguindo,

                   Mesmo amaldiçoada -- jamais retornará...
E creia, estando mesmo já cansada, em tempo ocioso
Ao canto, de um sublime amor, seu coração escancarará
                   -- Mais do que aos queixumes da tua musa.

                   Até podes chorar -- a multidão já tem problemas:
Contabilizar cada moeda suada sua -- do seu trabalho;
Estenda as tuas mãos, forneça-lhe a cabeça, -- Não chores
                   Por ela. Porque chorando, a sua alma não verás!

                   Submissa, poderosa, mas não se aprofunda
Na força da palavra, com que tu adoras derrotas infligir,
E, aos sofrimentos dos poéticos enlevos, naõ se entrega.
                   Acostumada aos sofrimentos cotidianos sucumbir.

                   Deixe de lado as conclamações inúteis!
Não queiras choramingar! A voz do peito teu seja normal,
Seja fluente como a música, -- Transforme a dor em flores,
                   Ao caminho da verdade conduza-nos com alegria!

                   Sem amor não há verdade. E a verdade é natureza.
Sem sentimento de beleza, jamais se pode amar a natureza...
Não conhecer é não saber e sem saber, é viver sem liberdade.
                   E o trabalho só tem sentido --
                   Se feito com o pensamento da criatividade...

Calor humano


Calor humano em demasia

Calor humano demais -- sufoca.
Apaga os desejos naturais,
Submete os puros ideais...

-- Em troca de favores poucos,
faz mergulhar a vida numa neblina.

Manipulado por mãos alheias,
-- desde que lhes dê, em troca,
toda a vontade tua de pensar, --
Terás estômago teu satisfeito...

E nada mais!
Do resto, terás tu de abdicar!..

Calor humano.
Que invento fabuloso!

Nas mãos dos fortes detém tudo;
Aos pequeninos -- de vida parcos,
apenas dá coisas de sobra --
tal de calor humano. Custa pouco,
promove e coloca no pedestal --
O pódium fraterno, solidariamente
adrede preparado...

Contente, aquecido --
Envolto em manto de calor humano,
Não pensa mais em ser ator de si.

Por que pensar?
Nem tem ideias próprias mais...
Se o resto -- das migalhas,
da bondade alheia, encheu a mão;
Só resta mastigar. Os dias mais,
virão por si. Outros darão:
esmolas em formatos de frenesi!

E graças ao calor humano
Nós temos à nossa frente
-- os não pensantes ex-pensadores
-- os malandros, que
    antes de trabalhar se tornaram
    ex-trabalhadores. Esclareço:
    esses são os que descobriram
    em suas titias as suas
    grandes provedoras...

E haja titias, espalhando
o calor humano!
E haja sobrinhos,
aproveitando esse pensamento
que, de tanto calor, virou insano!

Beije-me


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Поцелуй, 1863)

Beije-me

O raciocinio, o coração, a lembrança arruinados!
Não é em vão que eu beijo-te de modo tão ardente --
          Eu te beijo, porque tu és aquela
          Perante quem minhas paixões eram secretas
          -- covarde eu era e assim,
          Por aquela, que me abrasou sem labaredas,
          E, que ria de mim e, que me dilacerava...
          Por aquela, de quem o amor seria, tão só
          -- e nada mais, que o meu escudo,
          Porém, ela foi morta. Repousa sob a cruz,
          naquela sepultura...
E tudo, o que ardia em meu peito, querida minha,
que se apague em teus abrigos de mortalha.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A última conversa


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Последний разговор, 1845)

A última conversa

O rouxinol canta, para proteger o seu jardim;
Do lado de lá da represa, as luzes já se apagaram;
A noite é escura. -- E tu, podes não estar contente,
Porque eu resolvi ficar a sós contigo?!.

Eu próprio tenho desejos de separar-me de ti;
Porém, tenho pena de abandonar aquela banqueta,
Na qual sentada, te entregas aos longos pensamentos
E ouves os suaves cantos do rouxinol noturno...

Não te perturbes, com as coisas havidas no passado!
Não queiras entender, de como eu poderia ter amado,
Nem como -- este coração apaixonado, de dor sofria,
-- De agora em diante, contigo não vou falar...

O palavreado meu perturba-te e te transtorna...
Melhor que continues ouvindo os cantos do rouxinol,
Porque do rouxinol a natureza é ser: Sempre feliz
Cantando sem se perder e sem jamais se entristecer.

Já alta noite, também o rouxinol ficou calado...
Voou feliz aos aposentos seus. E dela se despediu.
Eu também quero, repousar tranquilo nesta noite --
Até depois! Se ainda nós nos pudermos encontar!..

Desejes-me que eu não me lembre dessa noite... E,
Que os outros, recobrem seus sentidos lá nos ceus,
Ali, quem sabe, eu possa receber-te condignamente
Os lábios murmurando uma doce canção de rouxinol!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O último suspiro


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Последний вздох, 1864)

O último suspiro

"Quero um beijo teu...
O meu peito arde em brasas...
Eu te amo ainda...
Encoste o teu rosto ao meu".

Era a hora da despedida
Os teus lábios se entreabriam
A tua voz cada vez mais fraca
-- parecia estar derretendo,
no fundo da alma em brasa,
que lentamente ia se apagando.

Tu respirar mais não podias...
-- Eu olhava o teu rosto,
Parecias morta. Só olhavas.
Eu apurei os meus ouvidos...

E, afinal! Amiga minha,
O teu último suspiro
Por mim o teu apreço
Não pudeste externar.

Também não sei eu,
de que modo
esta minha vida findará!
Onde -- para mim,
o teu amor se externará!

Gelo polar


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Полярные льды, 1871)

Gelo polar

Aqui vivemos a primevera; Ali -- ondas quebrando
Grandes volumes de geleiras -- Navegam em neblinas --
Navegam em dias claros; Depois -- derretem sob o luar,
               Jogando as lágrimas para o mar.

A tempestade, ou cobre as geleiras de espuma --
Quebrando-as depois; Ou envolve as geleiras em calmarias
-- Quando as estrelas se confunfem com as estrelas,
E o frio oceano, que durante a noite ruboriza adoentado,
               Descarta-as sob a forma de colunas.

E com saudades das grandes geleiras, dos paises polares,
Os blocos de gelo nadam ao sul -- Até as margens de cá...
Até estes rochedos, nos quais está acesa a nossa lareira,
               Que joga a sua fumaça sobre os pinheirais.

Elas jamais retornarão aos limtes da sua querida pátria,
Também, chegar às praias da nossa costa nunca poderão...
Somente os suspiros seus, os ventos trarão até nós --
               Para sufocar a nossa primavera...

Ora verdeja o cume dos outeiros, ora os brotos das bétulas;
Porém, o dia já se mostra carregado. Cuvisco de nevasca. --
Assim não era ontem: -- Nós nos afogávamos em quntes sonhos.
               Hoje, um sopro de frios ventos.

------------------------------------------------------------

Nota:
"Quando as estrelas se confunfem com as estrelas"
refere-se à "noite polar" -- é a noite que dura
mais de 24 horas, fenômeno que ocorre nas regiões
polares, na zona delimitada pelos círculos polares.

domingo, 23 de dezembro de 2012

O que é o amor


O que é o amor?
Eu vou dizer-te...
Preste atenção! Não é comum
a minha afirmação.,, Amor é
-- Invenção de algum poeta.
Um jogo de palavras
que se combinam
entrelaçando-se
em rimas. Podem ser primas,
maiores e menores.
Deslumbram pelo fraseado --
por vezes inusitado...

Combinam, em versos,
verbos, e substantivos,
Entrecortados por adjetivos
Que se conectam, entre si,
Por alguns apelos
aos sentimentos
primitivos...
-- Alguns dize -- intuitivos.

Para dar charme e harmonia,
usa-se rimas, tentando-se
imitar o que os musicistas
chamariam de uma polifonia.
Quero dizer:
Unir a mente ao coração
sem distonia! --
Uma mistura completa
de dor, tristeza e de alegria.

Na prática, a tática é esta
-- As rimas se complementam
Surtindo um efeito poético,
equivalente de sapateado.
Exige-se apenas do amante
que não se canse
mesmo se em estado extenuante!

Polonskij aqui


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Полонский здесь, 1890)

Polonskij aqui

Polonskij aqui -- Não sem convite
Teve um encontro com o Fet...
E quando um idoso recepcionava outro
-- Um poeta abençoava outro poeta...

Aprimoravam, juntos, rimas de versos,
Poemas escrevendo. -- De suas musas,
Enaltecendo os encantos de primavera.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Aproxime-te


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
( Подойди, 1856)

Aproxime-te

-- Aproxime-te de mim, velha Senhora,
Há muito tempo, eu te aguardava. --
De cabelo eriçado e toda esfarrapada,
Em frente dela, a cigana já estava...
-- Eu direi-te toda a verdade,
Mostre-me a tua mão. Eu quero ve-la:
Tenhas muito cuidado!.. O teu amado,
Está tramando mentiras contra ti...

Dirigiu-se, a jovem, ao campo aberto
Pensava ela em achar flores ali --
A cada pétala que desfolhava, dizia:
-- Ama -- não ama -- não ama -- Ama.
E, quando tudo já estava desfolhado,
"Sim, ele te ama!". Ela ouviu a fala
-- como resposta clara, do coração.

Os lábios dela sorriem;
O coração -- de dor, geme e chora.
Arrebatada, e sentindo-se magoada,
Nos olhos da cigana vê mentiras. --
Por que me enganas, velha cigana?..
-- Não te engano! Vejo o futuro.
E tu serás -- por ele, odiada. --
Nada mais posso dizer... Não posso!

O olhar dele é muito triste,
Porém, as sua faces ruborejam...
E enclinando, os seus lábios,
sobre os ombros dela, murmura:
-- Tenha cuidados comigo!
-- Eu sei,
que estou te perdendo,
porque amo-te loucamente!..

Красива


Красива дівчина

А дівчина є дуже красива...
А чи ж буде така,
яоли стане її голова сива?
-- Тут же, в Бразилії,
жінка модерна не старіє ніколи;
Навіть тоді
як досягає сімдісять п'ять років
-- То здається така свіжа,
Як лишень зірвана, із дерева,
чорнобрива слива.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Defunto ruim


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Плохой мертвец)

Defunto ruim

Sepultei para sempre. Muito chorei
     Pelo meu coração -- Ao final!..
E emfim, um milagre! -- Ele tremeu
     Tremeu em meu peito. -- Morreu?
Como ousa mecher-se o defunto?! --
Quer viver, expandir-se no espaço!
-- Saborear as paixões das bonecas
Então que eu morra em sua troca...

Sinta paz! Ó, coração em meu peito!
Não em vão que eu te quis sepultar,
     -- Por que queres viver!?
Que alegria terás em querer batucar
-- Gastar teus esforços à toa!?
-- Saborear as paixões das bonecas
Por isso eu quero viver; Não à toa!

Canção da cigana


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Песня цыганки, 1853?)

Canção da cigana

A minha fogueira brilha na sombra;
As faiscas se apagam no espaço...
Ninguém nos verá nesta noite;
Nós nos despediremos naquela ponte.

A noite vai passando -- Madrugada ainda
Meu amado! -- Vou para estepes distantes
Acompanhada de uma multidão de ciganos,
Seguindo o nosso trenó da tribo errante.

Na nossa despedida, podes tirar de mim
Esse chale bordado -- de caxemira:
E saiba que, assim como os extremos
do chale, nós nos uniamos nestes dias.

Haverá quem possa dizer-me o futuro?..
Haverá quem amanhã -- Ó, meu falcão,
Sobre o meu peito inclinado, desatará
O nó apertado, por tua ardente paixão?

Peço que lembres apenas isso,
Se acaso com outra estiveres --
E ela, recordando o amado dela,
Contigo brincando, cantarolar canções!

A minha fogueira brilha na sombra;
As faiscas se apagam no espaço...
Ninguém nos verá nesta noite;
Nós nos despediremos naquela ponte.

A chave onde está


Ele tomou a chave em mãos,
E disse:
A porta -- agora, é minha.
Sou corifeu maior
E canto o coro
à moda da casa...
Sou intérprete da lei
e dos escritos; Não sendo
escriba, sou auto chamado
-- Os que me conhecem,
comigo convivam!..
                              Assim,
o sim que era não, se fez
o dito -- dito por ele,
se fez e perfez e jamis
se desfez. Ninguém ousou
enfrentá-lo. As chaves
com ele ficaram.
E as portas, aos poucos,
se fecharam.

Os transeuntes que passam
em frente da porta
-- nem perceberam
A porta fechada, porque
não tentaram abri-la...
Não imaginam
-- nem imaginaram
Que as portas teem chaves
para abri-las. E,
para que alguém as abrisse
deveria haver antes alguém
que as fechasse.

"A chave onde está"
Houve alguém que já
se perguntasse?..

-- Para abrir esta porta,
aí que está o impasse!..

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Em memória de F.I. Tiutchev


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Памяти Ф.И. Тютчева, 1876
/ Ѳеодоръ Ивановичъ Тютчевъ)

Em memória de F.I. Tiutchev

Só porque, neste mundo de deus
          a beleza é infinda,
Na sua alma (dele) pairava
          uma eterna primavera;
O ardor, ele amainava com tempestades
          E, no turvilhão de suas lágrimas,
Em nuvens de arco-iris, cintilava
          -- e refletia visões!..

Só porque, no mundo de indiferenças
          E nos dias nossos da maldade,
Mais brilhvam -- em seus olhos,
          As faiscas do amor divino, --
Desde a juventude, até a alta idade
          De seus dias desoladores.
Para ele, o indiferente mundo todo
          Era um mundo indiferente!

Só porque, não confiava ele neste mundo,
          Dele a salvação não esperava,
E, acima de todos os ídolos humanos,
          Tinha à frente o seu ideal...
-- A canção que embalava o seu peito,
          Afligia lhe a vida
E apontava, como brilho de uma estrela,
          O caminho a trilhar!..

Só porque, ele confiava em seu povo:
          Tinha fé e sofria com ele,
E com o golpe de mangual, da irmandade,
          Impuseram-lhe o veredito, --
Ouço: O seu espírito, -- ora crê,
          Ora definha de novo,
Pois que jorra forte, outra vez o sangue
          -- Jorra o sangue do nosso povo!..

____________________________________________

F.I. Tiutchev
(Fyodor Ivanovich Tyutchev, 1803 - 1873)
Um dos trê últimos poetas românticos russos,
seguindo-se a Alexander Pushkin e Mikhail Lermontov.

De onde


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Откуда?!)

De onde?!

De onde surgirá aquela nova estrela
A estrela da liberdade e da verdade?
A estrela da compreensão -- do amor?
Será de trás daqueles muros
-- daquele monastério,
De lá, de onde o Nestor nos escreveu
as suas lendas sacras?

Será de lá do Kremlin, que aniquilou os tártaros
E que, dos sármatas, envergonhou os estandartes,
Será de la do Kremlin, de quem fogo incendiário
                 Queimando, consumiu os louros de Napoleão?

Será de lá do rio Neva, que por Pedro foi coroado,
O grande Imperador que governava, não com o bastão
De Ivan, o Grozny; mas com um machado amolado:

Ao Ocidente, abriu clareiras e construiu flotilha,
Do trono ao trabalho e, do trabalho ao trono ia --
                 Nunca cansou do esforço de labuta...
Dedicava-se aos estudos e, aos trabalhos braçais?!
                 Não viria de lá a força, de onde jesuita
-- Em nome da intolerabilidade e da fraternidade,
                 Erguia, da força papal, o poderoso escudo
E jactando-se com a destruição das bases do estado?

Não viria de lá a força, de onde Jan Hus,
Ergue a cruz, em substituição da taça --
Nas praças, da gloriosa Praga, ensinando
-- onde Jan Žižka vinganças promovia;
Fogueiras, com sua espada, apagava e, os
objetivos contra os direitos demolia.
                 Elã de vida a todos incutia?..

Talvez do Ocidente a inspiração viria?!
-- Ali partidos já proliferam.
Lá, das tribunas, vozes do povo clamam,
De lá nos chegam dos pefumes os aromas:
-- Os sadios e venenosos ensinamentos
                 Irão contaminar a nossa Rússia?

........................................
A mim, que sou poeta, pouco importa,
De onde vira a nova luz; Desejo apenas
Que essa luz nos aclareie mais --
Que seja ela igual ao sol da natureza,
                 Que traga mais vida e liberdade,
E que o resto se perca e se desfaça --
Sem deixar nem sombras de tristeza.

_______________________________________________
Nestor, o cronista (1056 - 1114)
Monge do Monastério das Grutas de Kyiv.
Autor de "As crônicas dos anos primevos".
Aos 17 anos enclausurou-se no mosteiro de
Kyiv, sob a direção de abade Teodósio.

Jan Žižka de Trocnov (1360 - 1424)
foi um dos mais importantes comandantes,
na guerra civil da Boémia, do movimento
religioso hussita e sucessor do fundador
Jan Hus. Com os exércitos sob seu comando
nunca perderam uma batalha, ele adquiriu
a fama de invencível.

Коли


Коли співали

Кли співали соловейки
Я тільки слухав --
Як вітер віяв,
Розносив листя
понад лісів верхами...

А соловейки все співали
Вони незнали серця болю
-- томуж весело гралися
Як діти (бо ще недумали
як думають поети, ті що
лишень у болях шукають
свою долю а не булаву!)

І я читав таких поетів,
тоді як слухав спів цих
соловейків...
Тай зрозумів обох.
-- Коли один сумує,
другий співає -- І так
один другому й помагає!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Uma resposta


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Ответ)

Uma resposta

Tu perguntas: Por que causa --
Tudo aconteceu,
Assim de modo insignificante,
De que a sua superioridade
Nós não pudéssemos reconhecer?...

-- Não! Eu sou, assim como são todos --
Assim como o é, o raio de qualquer roda,
Que sozinho e, por si só, não sabe
Nem pode (de modo algum) nos responder
-- mesmo em sendo perguntado, --
Por que tremula ele, com tanta rapidez,
Girando ao redor do seu eixo...

Por que, com o seu aro de ferro,
Rodando pelas estradas do mundo,
A roda recolhe todo o barro,
Emporcalhando os raios com argila;
Porém, não identifica -- Por que?
A quem ela -- a roda, carrega...
Quem tem as rédeas -- o cocheiro?
O que encherga o olho lá do alto,
E para onde vai a carruagem?..
E que cavalos puxam a carroça?

N. A. Nekrasov


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(О Н. А. Некрасове)

N . A. Nekrasov
(Nikolai Alekseevich Nekrasov, 1821 - 1877)

                  Recordo-me bem. Eu o conheci naqueles dias,
quando ele estava doente e falava com muita dificuldade,
                  Ele, preparava-nos para a cidadania
E, extasiante inflamava-se e derretia como uma vela,
                  Quando então nós podiamos adorá-lo --
Nós todos, sem dons alguns e sem bençãos da terra...

                  Frente aos humbrais da sua tumba
Ele jamais ficou desanimado, impassível; Era o mesmo;
                  Com sua face compenetrada e pensativo
As suas rimas -- de combatentes eram, não de serviçais,
                  E todos nós acreditavamos nos dele ideais.
Ele era o cantor maior do trabalho e de sofrimentos...

Agora que sejam liberados: murmurações e todos os boatos,
Apenas eram palavras e nada mais -- Palavras -- palavras,
                  -- Palvras que o divertiam. Nada mais!
De escritos literários não passavam -- Um trunfo seu...
                  Desde a infância o distraiam, atormentavam --
Inveja em outros provocavam... Um desumano pagamento...

                  Que sejam retardadas todas as murmurações,
-- Não enclinarei eu, a minha cabeça obediente, como vós;
                  Nada lhe faria mal, ela dizer à mente:
Porque iluminaste o caminho, caia depressa nas trevas...
                  Murmurações de boatos e glória - dois inimigos;
O boato não é juiz... Também eu, não sou um servo seu...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Noite na Escócia


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Ночь в горах Шотландии)

Noite na Escócia

     Estás dormindo, meu irmão?
A noite arrefeceu;
No gélido e
prateado brilho,
mergulharam as copas
das enormes e
azuladas montanhas.

     Tudo calmo e iluminado,
Ouve-se um ruido surdo
-- Rolando para o abismo
uma pedra desbarrancada.
No clarão, vê-se andando
Debaixo do manto de nuvens,
sobre o afastado
e íngreme penhasco,
um cabrito selvagem.

     Estás dormindo, meu irmão?
Mais denso e mais denso
Torna-se o colorido do ceu da meia-noite,
Mais claro e mais claro
Arde o colorido dos planetas.
Ameaçadora -- na escuridão,
fulgura a madrugada
A espada de Orion.

     Acorda, meu irmão!
Do invisível alaúde
Daquele forte
Um canto aéreo ecoou
-- O vento uivante o tgrouxe.
Acorda, meu irmão!
Retribuindo,
De modo penetrante e ríspido
a voz de um chifre de bronze
-- daquele monte
por três vezes ressoou,
E, por três vezes,
as águias despertaram em seus ninhos...

O pobretão


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(НИЩИЙ)

O pobretão

Conheci um pobretão: era uma sombra só,
Logo pela manhã, e até o fim do dia
O velho pedinte, espiando pelas janelas,
Pedia uma esmola -- um pedaço de pão...

Tudo, o que durante o dia recolhia,
Até o final da noite nada lhe sobrava --
Aos doentes, aos cegos, e aos aleijados,
Todos iguais a ele, o velho entregava...

Em nossos dias, assim pois é todo poeta.
Perdeu a sua fé, inda em tempos juvenis,
Como o velho esmoler -- pedinte exausto,
Procura um alimento espiritual da alma.

Porém, de tudo o que a vida lhe fornece
-- Agradecido, ele compartilha...
Divide a sua própria alma com os outros
-- Que são tão pobres quanto ele!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Desconhecido


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Неизвестность)

O Desconhecido

Quem pois será o gênio, que fará
nos despertar do sono de letargia;
Que fará amalgamar os pensamentos,
Imbuindo-nos de forças novas...
Substituindo os apoios do passado?

E quem simplificaria os problemas?
Quem tornaria possivel a perfeição
-- Limpando o milhão de estradas?
Quem seria este ousado semi-deus?
Quem seria o ímpio bem aventurado
-- Vero e insolente gênio imbecil?

Seria um fanático profeta inspirado
Ou, um sábio pensador habilitado?..
Viria ele em forma de um consolador
Ou, como se fora poderoso vingador,
Para criar juizo na mente dos povos.
Talvez assim possa incutir o amor;
Ou, evocar os ódios entre nações...
-- Virá e derrogará os estandartes?

Pouco importa! E vãos os pensamentos.
E já ali, pode estar um precursor...
Pelos caminhos vicinais está andando,
Carregando a fé profunda, e sem saber
Onde repousar e do que se alimntar...
Quem sabe, e poderia ser casualmente:
Ele contigo já tivesse uma conversa,
Trocou os pensamentos teus por outros
-- Lançou, na tua alma ainda jovem,
Algumas idéias salutares diferentes.

Em vão


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Напрасно, 1867)

Em vão

Algumas vezes, ele clamou em vão às sombras encantadas;
E esperou -- A claridade retornará. Ressurgirá de novo,
Tudo aquilo, o que o sono eterno em túmulos adormeceu.
Retornará! -- Espalhará, com força do amor enfeitiçado,
A felicidade desejada... Já acordou!.. -- E já aflige...

Em vão queria ele do amor livrar-se; Bani-lo, esquecê-lo.
-- Queria que, da claridade a luz, perdida para sempre,
Não lhe causasse dores de saudade, prolongando impressões
De acesas luzes, há muito apagadas; Cortando as sombras e
Turvando as lembranças, das já cançadas e findas ilusões.

Em vão ele rezava, entregando-se de alma às novas paixões:
-- Em vão querias domar-me com o teu sorriso nos lábios!
Que eu pudesse ter forças novas, na severa velhice minha,
Suportar, na cabeça, uma coroa de espinhos de inimizades.
Suportar uma cruz -- A cruz pesada sobre os meus ombros...

O amor não o pocura mais; como faz lua, em noite de neblina;
Porém, a vida sopra em sua alma, como faz vento no inverno.
E cada hora que se passa arde mais, no coração ferido, a dor
-- Porém, de nova forma se revestia, no mundo das mentiras.
Retorna sempre ao passado... Um passado de turvas sombras...

sábado, 15 de dezembro de 2012

O meu caminho


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(На пути)

O meu caminho

Uma noite sombria surpreendeu-me,
          Pelo caminho -- ervas daninhas...
Um gélido ar sopra das margens do rio,
          Gotas de água evaporam, formando neblina.

Lá distante -- mais à frente, sob as nuvens,
          Do outro lado da margem do rio -- Há luzes
Tremeluzindo um feixe de raios candentes...

Parece que há vozes, ecoando entre os arbustos
-- Será uma canção, ou de sinos a badalada?
          Meus ouvidos prestam mais atenção!..

Mergulharei no rio -- Sobre arbustos me atirarei
          Embrenharei-me na espessa neblina da noite--
Mais ali, tudo é mais cálido e tudo mais iluminado,
          E no meu caminho -- só há arbustos...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

No navio


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(На корабле, 1856)

No navio

Tudo calmo. Noite escura. Assobie, para que não durmamos!..
As trovoadas de ontem, ainda não se acalmaram:
Das tempestades as ondas -- que a noite toda nos embalaram,
                      Ainda não cessaram, e continuam-nos a embalar.
Noite escura... Sem o brilhar da lua, desviamo-nos da rota.
-- Quebrado o lampeão da popa, a bússola não enchergamos.
Traga-nos luzes! Repique o sino... Não deixe-nos dormir! --
As ondas ainda não cessaram, e continuam a nos embalar...
A ventania agita, impetuosamente, o nosso estandarte;
O capitão -- sem se mexer, nem sabe mais o que fazer...

Estrela d'alva!.. Amigos, o despontar d'aurora! Vejam só!..
Tudo clareia -- O capitão, e também nós, e as negras ondas.
Quem já adoeceu, quem já cansou, quem ainda sente-se forte,
Tudo o que as tempestades venceram, tombaram, e levaram --
Clareo: Em o dia divino chegando, o mal não se sustenta!..
Assim -- Nós não perecemos!.. Recuperamos quase tudo...
Reforçamos os mastros, restauramos todas as velas do navio,
Com o nosso tropel, inqietariamos até os ociosos vagabundos
-- E navegando, iriamos muito mais longe, troando juntos
                      A canção: Senhor, abençoe o dia de amanhã!

Em provação


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(На искусе)

Em provação

Quando eu cair em uma tentação, irei cumprir castigos todos,
Mergulharei dentro das noites -- na minha cela do mosteiro,
E quando eu acender as velas, diante da santa virgem --
Mergulharei todo, num transe pleno, em uma oração...

Humilde eu presto, diante da imagem, as minhas reverências,
Nem mesmo ouço, por trás das grades, o canto dos rouxinois,
Lá fora no jardim, onde baloiçam ao vento flores de jasmins.

Depois de um longo arrependimento, eu me ponho a repousar;
Sinto cobrindo-me uma nuvem de ventos, de sublime volúpia,
E eu tenho visões, mais claras que o dia, do que já vivi...

E quando eu fecho os meus olhos já cansados --
Mergulho, bem fundo, na doçura das minhas divagações:
Vejo tudo o que é dela -- Os seus olhos encovados...
Seus pálidos ombros encolhidos... Ondulações nos cabelos...

Quando começo a adormecer -- sinto um peadelo no peito, --
Sinto-me como se fosse completamente um insensato;
Em sonhos meus, eu ouço os queixumes dela --
Censurando os meus dias libertinos -- da juventude minha...

Em lágrimas -- prostrado e arrependido, perdão suplico!
Ouço então, os gritos de uma criança -- E nela, eu vejo
Um órfão, o Vingador eterno!.. E eu, por ele ter-me amado,
Vivi a vida desregrada, envergonhando a sua (dele) missão.

Sem ter mais forças, para vencer as provações!
Nem mais me lembro das minhas orações.
Àquela devassa perdida, eu suplico o seu perdão.
À sua frente, curvo-me agora. Veja! De joelhos já estou...

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

No ocaso


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij

Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(На закате)

No ocaso

Vejo, cobertas de ouro, as nuvens cinzentas
Atravancando todo ocidente; Por entre frestas,
Reflexos de estrelas, -- Escarpados abruptos,
Penhascos... De bétalas bosques e pinheirais...

Iluminados pelo clarão dos relampejos da tarde;
Lá em baixo -- um mar sem fronteiras. Da neblina
Correm, arrastando consigo, enormes vagalhões,
De indomável e insurdecedor barulho, de águas...

Por entre os arbustos, uma vereda segue ao mar,
Seguirei a vereda, chegarei até o mar... Eu --
                  Quero encontrar-me com as ondas de lá!
Para mim, desgostoso da vida e cansado do mundo,
Buscarei, junto às ondas, um "caloroso" abraço!..

E a onda bateu-se, com fúria, contra os penhascos
-- Mas com força perdeu-se, revestiu-se de espuma
Em rumores medonhos caiu, refluiu, e retornou:
-- Por nova onda espere; Porque eu, já me desfiz!

Novas ondas se levantam e rumorejam de novo, --
Eu ouço-as todas... Ouço uma de cada vez...
O coração sempre abarrotado de infindos desejos --
Enquanto eu espero, -- Ao redor, se apaga o ocaso.

Pela ferrovia


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(На железной дороге, 1868)

Pela ferrovia

Avança, avança o cavalo de ferro!
Sobre o ferro, o ferro retumba...
O vapor sobe em blocos, fumaça se espalha;
Avança, avança o cavalo de ferro,
Apanhou, acomodou todos, pos-se a correr.

Também voo. Voo em busca do meu negócio, --
Um negócio importante, não posso perder tempo.
Mas, e o cavalo! Eu simplesmente, fico calado.
Totavia espero, como um sabiá cantar ainda,
Caso o negócio possa se concretizar...

Ao encontro, se apresenta uma floresta,
Por sobre os vales, estrépitas rodam as pontes,
E os vapor se agarra às moitas de arbustos;
Avança e avança o cavalo de ferro! --
E centila, deslocando-se o cavalo-vapor...

Perde-se de vista a pátria! Perde-se em si
O levantado telhado, coberto pelas fasquias,
O jardim envolto em sombras, e os pálheiros;
Mais ali uma idosa, bebe o chá lembrando-me
-- Padecendo desfalece, aguardando o retorno.

Teria eu, com ela confabulado, num cantinho,
Teria um pouco repousado, na sombra de betulas,
Ali, onde foram semeados muitos sonhos...
Porém, o cavalo de ferro avança e avança!
E sob os assovios, faz girar centenas de rodas.

Adeus rios -- seus reflexos, e os sombrios juncais;
A linda donzela, que devagar escala os montículos,
E que sem pressa, caminha suave pelos atalhos;
Pode ser ela -- apenas um alma de ouro. Ou,
pode ser ela -- a mais bela de todas as belas.

Talvez, pudesse eu conhecê-la. Nem sei!..
Nem é tolice ter pensamentos à toa, --
E pergunto-me, se poderia emfim apaixonar-me...
E o cavalo de ferro avança, e avança mais,
Enquanto a linha de ferro se estica mais e mais!

Ao encontro, no horizonte distante, aparecem
Campanários e torres de sinos, prédios e prisões;
Um amigo de escola meu, ali está -- disseram-me,
Numa luta eterna, descontente com a existência...
Poderia dizer-lhe eu algo?.. -- Nem sei!?.

Talvez, eu pudesse conversar, uma hora ao menos!
Saber, pelo menos um pouco, do que tem vivido,
As tristezas e sofrimentos, por que tem passado...
E o cavalo de ferro avança, e avança mais,
Semeando as fagulhas, espalhando-as pelo espaço.

E, girando-as, o vento esparrama as fagulhas
Por sobre o orvalho, da negra terra escurecida,
E, através do meu sonho, o cavalo de ferro
Disse-me: "Amigo, tu vais atrás do negócio teu;
então, a ternura e a meiguice, mande ao diabo"...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A minha mente


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Мой ум, 1870)

A minha mente

           A minha mente estava afogada pelas angústias,
Os olhos meus ardiam, sem derramar nenhuma lágrima sequer;
Às margens dos lagos, os pinheirais se entrelaçavam,
Escureciam os juncais, -- transparecendo, pelas gretas,
-- Da escuridão para o clarão das águas das lagoas...

           Muitas estrelas, milhares delas cintilavam;
Meu coração, permanecia todo, envolvolto em tristes sombras
E os calafrios gélidos, completamente, me atormentavam,
Eu nada enchergava -- tudo parecia-me uma turva neblina --
Conseguia ver, alguns raios de amor, sobre um abismo do mal!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Meu coração


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Мое сердце, 1856)

Meu coração

O meu coração -- um manancial de uma canção -- uma onda,
          Que aos poucos, perde-se na distância, -- E se desfaz.
E, sob a tempestade -- a minha canção, como nuvem escura,
          No crepúsculo das tardes -- reflete-se como sombra.

Se, por acaso renasceremm, de um amor inesperado, os desejos
          Ou, se no coração, se acumularem as tristezas --
Do fundo do meu coração, fluirão como rio, lágrimas minhas,
          E as ondas as levarão -- com toda a pressa.

Suave sussurro


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(... мягкий шорох)

Suave sussurro

Aprecio, das espigas dos trigais, o suave sussurro
               E a claridade do azul celeste;
Eu não me identifico, nem com as nuvens escuras,
               E nem com as tempestades...
               Delicio-me apenas com os trigais.

Mas as nuvens se formaram, despejando o seu granizo,
               E, nas tempestades, retumbaram as trovoadas;
E no meio dos trigais, como se uma espiga fosse,
               Eu caí de bruços sobre a terra molhada...
               Parecia até que eu tinha sido pregado ao chão --

               Senti-me todo gelado, e fiquei emudecido,
Naquele instante, tudo tornou-se-me indiferente --
               Poderia ter sido tanto o sol, quanto
               Uma nuvem pairando sobre mim?!.

Alegoria que um amigo viveu...


A boa vontade
não lota os bancos do templo.
Continuam vazios... À espera
monótona de seus ocupantes.

-- Por ora, não os há. E nem
-- de longe, se os avista!
Será que algum dia,
por um simples acaso,
alguém se digne,
com a sua presença: Neles
sentar-se? Com o seu traje,
limpar o pó deles? Dizer-lhes:
"...foi bom eu ter vindo,
conhecer-vos, ouvir um sermão.
Agora me vou. E adeus!..."

Em outros dias, outros virão e
seus lugares vazios ocuparão.
Acredito, que vós não fostes
"esculpidos" em vão.

E qual a razão de os bancos
estarem vazios a todo instante?
-- Não sei responder!

Quem deveria saber é o "mestre"
da casa. -- Cuidar deveria
das coisas que digam respeito
ao templo. Ele diz-se ser o maior
-- Dentre os irmãos "paroquiais"
Quer parecer o melhor. Sabe mais!
Não aceita conselhos... E resolve
-- à base da força de judô!
Sente-se um vencedor, que só ele:
E é só!..

Os outros são menos, que os já
transformados em seus serviçais.
-- Não sabem, nem podem,
nada fazer... Sem a sua
"administering permissions"
de presenças habituais...
Todos os outros são seus bonecos
(quase reais).
Prontos para dizer "sim"
às suas astúcoas geniais!

O poema -- que agora eu escrevi,
Apenas é alegoria de uma verdade
-- que um dia um meu amigo viveu
porque passou por aqui...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Não temias o amor


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Любви не боялась)

Não temias o amor

Tu não tiveste medo de amar, amadureceste cedo o coração:
Acreditaste no amor. te entregaste -- agora sofres de dor...
És tu vítima coitada da escravidão, da paixão e mentiras,
Agora, rompas as suas redes sujas, sem temer recriminações.

As recriminações das gentes -- falsa consciêcnia humana...
Não chores, não te entristezas, clareie a tua triste visão!
Juiz eu não sou, não chores, -- mesmo sabendo, que os maus
Falatórios sentenciaram -- sorridentes -- a tua condenação.

Pergunto, se cada um de nós, já não foi driblado pela paixão?
E os teus inimigos, podedrão zombar de ti, até à sepultur?
E os teus amigos, não se cansarão, dilacerando a alma tua?..
Sem pretexto para o mal, entre os homens expira a maldade...

E tudo, o que em ti parecia ser-te caro, límpido e sagrado,
Aos que te amaram, também assim sagrado e caro parecerá;
E o teu coração generoso, também será enriquecido --
E tu continuarás amando ainda e, amando, ainda sorrirás...

O brilho da lua


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(ЛУННЫЙ СВЕТ)

O brilho da lua

Sentado num banco, na penumbra transparente,
Ouço silenciosamente o farfalhar de folhas
-- A noite avança, e -- ouço, ao longe
O cantar dos galos, comunnicando-se entre si.

Distantes, no alto, cintilam as estrelas,
Os horizontes todos iluminados,
Calmos jorram os mágicos raios da lua.

As melhores aspirações da vida --
Os ardentes pensamentos do coração,
As impressões existenciais fatídicas
Do mal, do bem, e de todas as belezas;

O que está perto;
e o que está longe.
O que é triste;
e o que é cômico.
O que está adormecido;
e o que está apenas repousando.
E o que está no íntimo da alma.
Nesse momento, tudo ficou iluminado.
-- O brilho da lua, aclareou tudo!..

-- Não encomodam-me as causas das mutações.
Por causas quais, as alegrias de outrora
desesperadas se tornaram, como aflição;
Por causas quais, as aflições de outrora
ficaram atuais, e tão vistosas e brilhantes?
-- Incompreensível benção!
-- Incompreensível saudade!

domingo, 9 de dezembro de 2012

O cisne


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Лебедь, 1888)

O cisne

Alguns arcos tangiam canções -- E lá, nos jardins,
                As luzes brilhavam -- O povo corria --
Somente a tarde tranquila dormia e as sombras
                Refletiam-se na noturna abóbada celeste;

Pareciam escuros: a manta do lago, o verde da mata
                E também, os densos juncais,
Lá também sofria um cisne branco,
                E que se escondia no silêncio da noite.

Morrendo que estava, ele perceber jamais poderia --
                Tendo sido como misantropo domesticado, --
Como, por sobre a sua cabeça, levantou-se o temporal
                Espalhando-se por todo o seu corpo;

Ele não ouvia, como o fluir das águas se batia,
                Como borbulhavam, nas margens, as nascentes, --
Ele fechava e abria os seus olhos, e tinha visões
                Sobre os voos noturnos, por sobre as nuvens:

Como são altos e sublimes os espaços siderais!
                O seu voo poderá levá-lo para lá
E então, que canção de inspiração profunda
                Ele, aos que lá se acham, cantará!?

Como tudo -- tudo aquilo que se tem por santo,
                Tudo aquilo que se escondeu dos homens,
Lá será -- por certo, a própria plena essência
                dos cisnes brancos, a todos revelada.

Já ele sonha, e tem visões: Um só minuto, --
                Suspiros -- E as asas já vão se agitar,
Os livres sons, da sua canção inspiradora,
                Uma manhã, de novas alegrias, anunciarão.

Porém, as suas asas já não se mechiam,
                A canção, apenas a mente embaralhava:
E sem voo nenhum, e sem o som de cantorias mais
                O cisne, na penumbra, se extinguia.

Entre os juncais rumorejando, sobre as folhagens
                Apenas a ventania passeava...
E -- ao redor, pelos pomares e jardins, luziam
                Algumas lamparinas. E arcos tangiam sons.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Os barquinhos


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Кораблики)

Os barquinhos (de papel)

Sou dono de dois barquinhos de papel
ainda dos meus dias de infância,
Abasteci os dois, para uma longa viagem:
Um deles, partiu para o passado,
para encontrar pessoas que tinham,
          De algum modo, se destacado por murmurações;

O outro -- levou os pensamentos testamentais,
de sonhos dos últimos desejos meus,
Para distâncias misteriosas --
De nublados espaços, dos dias de amanhã --
Para lá, onde reside o ideal da irmandade:
          Tudo é livre lá; Mas pessoas ali ainda não há.

Os navios que tinham partido -- já retornaram:
Um deles, trouxe-me um pálido enxame de sombas,
Suas lutas, suplícios, gemidos, dores de amor
          E uma grande carga de idéias.

O outro navio, retornou com um enxame de fantasias,
Elaboradas pelas mentes das gentes invisíveis,
Que se satisfazem sem escravos, sem a lágrima matinal
          -- Apenas com amor, sem mangual.

Eis que um deles, como se a sombra dos anos passados,
Aos ouvidos meus, verbera: Infeliz! A lei é pra todos,
Qual é o destino?! Pois saiba: Sem dores a vida não há;
          A esperança -- um sonho perdido.

Já outros -- como resposta, em silêncio segredam:
A nossa vida é diferente! São outras as nossas leis...
Não acredites aos que se foram. Eles navegam no passado.
          O passado -- apenas um sonho perdido!

A sineta


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Колокольчик, 1854)

A sineta

Acomodou-se a neblina... O caminho foi aclareado...
A noite olha com milhões de olhares embaçados...
Deruba-me num sono profundo ó, retintim da sineta!
                  Carregue-me velozmente
                  Ó, tróica dos cavalos cansados!

Fumaça embaçada das nuvens e o frio dos horizontes
Iniciam o amanhecer; o branco espectro da lua
Penetra na alma -- e nos vestígios, não apagados,
                  da minha tristeza
                  Retornando-me aos sonhos já esquecidos.

De repente sons ecoam -- Uma voz apaixonada canta
E badalos suaves, amigavelmente as sinetas batucam:
"Sim! Algum dia... Algum dia o meu amado retornará
                  Retornará... sim --
                  Para nos meus seios repousar!

Será que nem tenho mais vida!.. Mal vejo as estrelas
Incitando os seus raios a brincar com o frio, --
Sobre uma mesa de sobro, o meu samovar aquece o chá,
                  E crepita a brasa, clareando num canto
                  a cama, por trás da colorida cortina!..

Será que nem tenho vida!.. Os contraventos se abriram,
E, pelas paredes, deslizam os raios prateados lunares,
Poderão retornar as tempestades! O lampeão está aceso.
                  Enquanto eu cochilo, o coração não dorme
                  E, dentro dele, tudo mergulha em tristeza".

Eis que ouço algo... -- Aquela voz ainda está cantando,
                  E os badalos suaves, as sinetas batucam:
"Algures um amigo antigo?.. E tenho medo, ele entrará
                  E, carinhosamente, a mim me abraçará!

Mas que a vida é a minha! È dificil... e é triste,
É enfadonha a minha pousada; Entra vento pela janela.
Em frente à janela, apenas cresce uma gingeira-brava,
                  Também ela, cobriu-se de vidro congelado,
                  Nem mais aparece. Talvez, até morreu já!..

Mas que vida é essa!.. Desbotou até o colorido da cortina.
Adoentada vivo vagando só. Não comunico-me com os parentes,
Ninguém há que me repreenda. Não tenho quem me possa amar!
                  Apenas a velhota resmunga, quando recebo a visita
                  daquele vizinho, com quem me sinto um pouco feliz!"

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Balanço do mar


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Качка в бурю, Посв. М. Л. Михайлову)

Balanço no mar
(Dedicatória a M. L. Mikhailov)

A trovoada e o marulhar das águas... O navio balança;
O mar encapelado empina as suas ondas desencontradas;
A ventania perpassa, arriando abaixo, as velas içadas
                  Por entre o cordame, ouve-se assobios.

Sombrio tornou-se todo o firmamento,
E, confiando na segurança da embarcação,
Eu adormeci, no meu camarote apertado...
                  Com o balanço do navio -- dormi.

Em sonhos eu vejo: No balanceio do barco --
Um berço em que durmo... Ama-seca é ela, que
Canta suaves canções, ao fazer-me dormir: --
                  "Bayushki-bayu!", ela embala.

A luz dos lampeões incide sobre os travesseiros;
Sobre as cortinas, reflete-se a luz da lua...
E, a respeito de alguns brinquedos inesquecíveis,
                  Desenrolam-se dourados sonhos.

E despertado... Algo inusitado á minha frente?
O que será? Uma rajada de furacão e ventania? --
"Ruim momento... -- Quebrou-se o mastaréu,
                  O timoneiro (apavorado) caiu".

O que fazer? Em que eu poderia fazer-me util?
Pensando, confiei na embarcação de novo,
Deitei-me novamente e pus-me calmo a dormir...
                  No embalo das águas -- dormi.

Sonhei e vi: Eu era mais novo. Era mais jovem,
Sentia-me apaixonado, em mim ferviam ilusões...
E luxuriantes sensações de calafrios estelares
                  Profundamente penetravam no jardim.

A noite se aproxima -- escurecem os pinheirais...
Vindo de longe, ouço um murmúrio de uma vivente
-- Um balbuciar silencioso: "Naquele balanço,
                  Ali, querido! Iremos nos balançar".

Sinto, o corpo dela, como se fosse meio aéreo.
Os meus braços, e as mãos, quiseram abraçá-la.
E cambaleia ela -- balançando-se, obedientemente
                  A instável e movediça tábua...

E despertado... Algo inusitado á minha frente?
"O leme-guia foi arrancado. A proa avariada --
As ondas, ao longo do navio, se espalharam...
                  Levaram consigo o timoneiro!"

O que fazer, então? Pois seja o que for!
Entrego-me nas mãos divinas. Ao meu destino:
E se a morte, por acaso -- um dia me acordar --
                  Não aqui terei me despertado.

De: Bourdillon


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Из Бурдильена, 1874)

De: Bourdillon

As noites teem milhares de olhos,
            E os dias teem apenas um;
Porém, durante as noites -- sem os raios do Sol,
A terra encobre-se toda em uma fumaça de sombras.
A mentalidade observa tudo com milhares de olhos,
            O coração ve tudo com apenas um;
Porém, se o amor se apaga -- a vida cessa
E os dias todos fluirão, esvaindo-se como fumaça.

-------------------------------------------------------

Nota:
-----
Poema Original de Francis William Bourdillon
"The night has a thousand eyes"

Tradução para o russo de Jakov Petrovič Polonskij
(Из Бурдильена, 1874)

The Night has a thousand eyes,
And the Day but one;
Yet the light of the bright world dies
With the dying sun.

The mind has a thousand eyes,
And the heart but one;
Yet the light of a whole life dies
When love is done.

Foi por amor


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(И любя, 1898)

Foi por amor

Foi por amor, e de malignidade desde o berço,
Que muitas lágrimas -- durante a vida, derramei;
Onde estais vós? -- Aquelas lágrimas, escafederam-se,
Retornaram, com rapidez, ao raiar do Sol existencial.

Redescobrir tudo aquilo, pelo que tanto sofri,
E recuperar todas aquelas lágrimas amargas,
Eu voaria -- se de algum modo eu voar pudesse,
Até ali! Para onde está o raiar do Sol existencial...

Sempre tristeza


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(горе)

Sempre tristeza

Nos festejos há tristeza, no trabalho também há...
Comuniquem-se comigo, vós felizes todos, onde estais?
                   Satisfeitos, animados, onde vos encontrais?
Quem já amou sem dores, e sem receios quem já pensou?
E quem não foi já reprovado, ou quem já não chorou?..
Todo carrasco tem medo de ser julgado e ser desonrado
                   -- Nele a liberdade ve sempre um cadafalso.
Atribua-nos, ao menos,
um centésimo de pesadas tarefas. Ó, vida!
Tu és sempre tão estúpida e incoerente...
                   E fora de propoósito -- por vezes, meiga,
                   E fora de propoósito -- por vezes, rígida,
Geralmente cega, -- desregradamente facciosa e revoltada.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Não sejas teimoso


Não teimes em ser um teimoso
Daqueles que diz ser o melhor
-- Que se veste de orgulho,
Se mostra candente
para ser capcioso.

Podes afanar-te em ser mestre
Sem te penderes ser escamoso.
-- Nem tanto sabido,
-- Nem tanto falastrão.
Apenas, e tão só, seja irmão.
É claro, não pelo sangue,
Mas sim, pela confraria
da prelasia, confiada
à dignidade da tua
-- creio, insigne mão.
Assim como eu,
tu és também um irmão!

Não te revistas de orgulho.
Não te julgues um sabichão.
O chão que pisamos
-- é o chão que eu piso
-- é o chão que tu pisas
-- é o chão de poeira
que, no dia derradeiro,
cobrirá todos os sonhos
com a "palma" da sua "mão"!..

Não teimes em ser um teimoso!
O teu orgulho quer embrulhar-te
na solidão fria de um falastrão.
Sem fundamento das coisas ditas,
poderás ver-te num "pelotão" --
Pelotão -- de multidões sóbrias,
Pedindo esclarecimentos,
mais critériosos, para a falação!

Tenhas cuidado com cada expressão!
É bom não ser afoito, querer
-- ser mestre de "raspão".
Aprendas ler o que se diz assim:
"... um só é o vosso mestre...",

-- Tenhas consciência da preleção,
que preparaste para o teu rebanho,
para não tropeçares nela, dizendo
algo fora do escopo e estranho...
E fora de mão.

Não podes confundir a "vela"
que alumia um ambiente, com a "vela"
-- de "velas abertas", para mover as
embrcações de vela nos mares...

Canícula


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Зной , 1890)

Canícula

Canícula -- Tudo repousa no mais fastidioso silêncio --
Em manchas de luz, a penumbra descança pelas alamedas...
E os sentimentos liliputianos percebem apenas
De que -- nesta época do ano, as tempestades se escondem.

Pálida, debruçada sobre o parapeito da varanda --
Ela aguarda uma tempestade -- sonha com ela; Pobre!..
O temporal, feito um fantasma, perdeu-se na distância
Escurecendo todo o azul-da-prússia da abóbada celeste.

Os devaneios dos sonhos de verão parecem-lhe estórias,
-- Não viu tormentas, ninguém falou-lhe de tempestades
Espera... Clama por elas... Desesperadamente desmaia,
finalmente... Toda coberta por uma poeira de ouro...

--------------------------------------------------------------------

Nota:
--------
Canícula:
Significado de Canícula.
No hemisfério Norte,
a quadra mais quente do ano,
correspondente ao começo do verão.
Período de grande calor.
Liliputianos:
Se refere a Liliput, país imaginário

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ai de vós!


Escribas e fariseus, ai de vós!
Porque achais, que mais sabeis
E não deixais outros falarem?..
Pois sóis irmãos.
Todos iguais.
Um mesmo conhecer buscar
-- Portanto, deveis: Falar
sem constranger ninguém
-- e todos juntos
O conhecer compartilharem!

Ao explicar, não complicar!
Pensar que é mestre e só falar
é pouco razoável. A classe
é dos alunos, do professor.
E é de todos os que quiserem
expor os pensamentos seus
ou se opor... O professor
-- não é o mestre mor;
Apenas serve de guia,
de um orientador...

Aqueles bancos sempre vazios
Serão assim por longos dias,
por conta dos arrepios
dos fariseus escribas,
que se outorgam o saber da fé.

Não lestes nunca:
"... vós todos sois irmãos."
Cuidais dos outros,
A si não vedes.
Sois fariseus de falsa fé...

No inverno


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Зимой, 1889)

No inverno

Vejo, nas vidraças das carruagens, o reluzir
Das luzes e também, o clarão das fogueiras,
Alguns desenhos -- de pálidos arabescos
De linhas e de flores, de gelo cinzelados.
Vão de encontro, à sucessão da escuridão noturna,
Não os lampeões e sim -- manchas de luzes;
Assim avança a carreta -- carruagem minha
No meio desta penumbra de neblina das vaidades...

As luzes, os palácios, os bazares e feiras, rostos
Os ceus -- tudo encoberto e protegido ...
Uma miragem... Até parece ser uma capital
-- Pela janela do arabesco, ve-se uma sombra
Desloca-se como neblina, cortando os arabescos,
Formando nuvens de vapor, e -- Parece-me,
Que estou eu mesmo, como um fantasma, invisível
Todo enfronhado em tranquilidade de solavancos.

As rodas rangendo, sob o giro do seu próprio peso,
Perdem, dentro da neblina, as marcas na neve deixadas;
Conduzem-me "maciamente", E -- nem se pode duvidar:
De que os cavalos correm, mantendo a velocidade.
Nem sei porque!.. Nem para onde eu vou, --
Um servo de paixões ardentes. Solícito e diligente,
Como que me sentisse submisso aos delírios noturnos,
Numa recordação saudosa, dos dias que já passaram...

Tenho sonhos -- Num mundo gélido, ainda vejo --
Existe um cantinho aquecido e aconchegante...
Não sou eu único, na minha carreta carruagem...
Eis, mais ali! -- Vejo um olhar chamejante...
Eu sou um complemento da sua respiração --
Sinto-me todo aquecido, em desaforo ao inverno!
Quão doce -- no ar, é a fragrância de flores
-- De flores da primavera.
Um primavera na penumbra do frio inverno!

Despertei -- Recobrei os meus pensamentos;
Novamente, ruborizado pelos reflexos das luzes,
A nevasca fria tudo gelou. Encobriu as vidraças
E o vento gélido soprou... Que malvadeza!
Surpreendeu as quentes batidas do meu coração:
O amor, as paixões, os pensamentos... E,
Os meus suspiros todos, -- Transformaram-se
em pequenos cristais de flores e de estrelas.

O mosaico da vidraça, esculpido pelo cinzel gelado
Estendeu-se até às beiradas da moldura de cedro,
Tomando conta de todo o espaço da minha visão...
Meus pensamentos -- sem limites, perderam-se então!
Pensar -- em sobresaltos, não quero mais;
E sei também, que todo caminho conduz a um final.
Creio também, que estarei chegando em breve
A um aconchegante terraço de recepção feliz.

Uma viagem no inverno


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Зимний путь, 1844)

Uma viagem no inverno

             A vista se turva na noite escura
             Sob a kibitka do meu trenó,
             Encavilham na neve os patins,
             Os sinos do arco do dorso badalam,
             E o cocheiro "fustiga" os cavalos a correr.

Além das montanhas, das matas, do enfumaçado das nuvens
             Há um brilho sombrio dos raios lunares.
             Um uivo, de longo suspiro, de lobos famintos,
Que se propaga pelas neblinas densas da floresta. --
             Eu tenho sonhos de estranhos fantasmas.

Em tudo vejo uma fantasia: uma bancada à frente,
             Uma velhinha sentada na bancada,
             Até à meia-noite fiando e fzendo o tricô,
Ao mesmo tempo, conta-me lindas estórias,
             Cantarolando canções de ninar.

Vejo em sonho, no dorso de um lobo qualquer, eu cavalgando
             Galopando em marcha -- sobre os atalhos da mata,
             Para guerra, contra um rei bruxo, estou
Num país -- bem distante, onde uma rainha está trancafiada
             Fenecendo ali, em masmorra, morrendo de dor.

Ali há um palácio real de cristais, de jardins rodeado,
             Um cantar permanente -- por noites a fio, de rouxinois
             Que se alimentam de frutos dourados, sementes bicando,
Nascentes burbulham ali, jorrando águas de vida e da morte --
             Coisas assim inverossimeis, parecem-me enganar.

As noites de lá, assim silenciosas e frias, turvam a vista
             Sob a cobertura -- kibitka, do meu trenó,
             Encavilham na neve os patins,
             Os sinos do arco do dorso badalam,
             E o cocheiro apressa -- "fustigando", os cavalos a correr.
-------------------------------------------------------------------

Nota:
Kibitka -- cobertura de trenó, carreta coberta, tenda de nômadas

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A solitária


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Затворница, 1846)

A ermitã (ou A solitária)

Numa rua bastante conhecida --
               Lembro-me de um velho casarão,
Ele tem uma escadaria bem alta,
               Com área de cobertura e janelão.
Luzeiro ali não se apaga, parece uma estrela,
               Até à meia-noite brilha,
A ventania balança todas as cortinas
               E calmamente sibila ou silencia.
Saber ninguém podia, nem poderia, como ali
               A solitária ermitã vivia,
E que força singular, inexplicável e tão secreta
               Para ali me atraia?!.
E que a menina-maravilha -- ela própria pudesse
               Nas altas horas de uma noite
Comigo encontrar-se... Toda pálida, ela era singela,
               Tinha as tranças desarrumadas...
Dos lábios seus, brotavam frases infantis
               Dizia ela com firmeza:
Algumas coisas sobre uma vida desconhecida,
               A vida de um país estranho e distante.
De modo ardente e caloroso, mas não do jeito infantil,
               Juntou-se ela aos lábios meus,
Tremia, e balbuciando murmurava, ela disse:
               "Ouça-me, fujamos juntos!
Como dois pássaros nos tornaremos, em liberdade --
               O mundo orgulhoso não lembraremos...
Lá estaremos -- onde pessoas não dão-se em despedidas,
               Não há retornos para lá..."
E lentamente as lágrimas desceram felas faces --
               Os beijos estalaram pelos ares --
Os ventos estenderam suas cortinas transparentes
               E baloiçaram inquietamente o ar.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Estrela


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Заря, 1869)

Estrela

No meio das nuvens nasceu uma estrela e brilhou
Ficou observando, por entre os arbustos, uma trilha...
                            Veja você também,
Como são pálidas -- na própria sombra, as flores caidas
E como revestiu-se, o lamaçal, de cor púrpura brilhante.

Entrançando...


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Заплетя свои ..., 1864)

Entrançando...

Fazendo a coroa de trança em seus cabelos,
Lembraste-me do teu rosto semi-infantil
Toda alegria aquela, dos teus devaneios em sonhos,
Devaneios que transportam aos tempos de amor infantil.

Recordaste-me todo o ardor dos teus olhos negros
Como o brilho radiante, das noites escuras do leste --
A penumbra dos floridos jardins -- pálida face da lua.
Das primeiras paixões tempestades, tu lembrastes a mim.

Fizeste lembrar-me das muitas sombias querências
Da simplicidadde do florido escuro da tua vestimenta...
A sepultura, as lágrimas, e o delírio no silêncio
De noites solitárias, tu me lembraste-os -- a mim.

Tudo, o que na vida, como um sorriso, apresentou-se-me,
Tudo, o que o tempo, para sempre, da minha vida açambarcou,
Tudo, o que perdeu-se, e tudo, o que levou-me ao amor, --
Tu recordaste em mim. -- Agora, então ajude-me a esquecer!

Ainda...


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Еще не все..., 1898 )

Ainda...

Ainda não foi tudo o que eu consegui ver...
                Restou-me ainda e só:
Fechar os meus olhos, amar e depois detestar
                Improdutivamente e triste -- sonhar!..

Se a morte


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Если б смерть)

Se a morte

Se a morte fosse a minha mãe querida,
Qual criança adoentada, criança miserável,
No seu colo adormeceria eu.
E, a malvadez dos dias esqueceria,
Assim teria esquecido propriamente a mim.

Porém -- ela não é mãe -- e ela é estranha,
Brutalmente vinga-se naqueles que buscam a vida,
Imaginam e sofreguidamente amam... Ela,
da eternidade, derriba todos os mistérios,
Nem nos permite o nosso passado esquecer.

Дорога


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(ДОРОГА)

O caminho

Mudas estepes de espaços silentes -- é longo o meu caminhar.
Ao redor todo, ventos uivantes excitam ares descampados,
Ao longe vejo a neblia -- A tristeza abraçou-me,
Tomou conta de mim uma secreta melancolia.

Dos cavalos o galpar. -- A mim me parecem, preguiçosos
Eles galopam. O visual, porém, não muda. Sempre igual.
Estepes, atrás de si, deixam estepes. Trigais, após trigais.
-- Cocheiro! Por que tu não cantarolas uma canção?

E o barbudo cocheiro me responde:
-- Sobre o dia negro nós não cantamos. Guardamos a canção...
-- Por que estás alegre, então? -- Nos aproximamos da habitação.
A pértiga, bastante conhecida, já se avista emergindo da colina.

Ao longe vejo já: uma aldeia -- pequeno vilarejo,
Coberto de palha, um quintal de algum campônio,
Alguns palheiros. -- E conhecida já, uma choupana,
Há vida nela? Desde aqueles tempos, como está?..

Eis a choupana! Silêncio, lembranças e um jantar
Encontrará o cocheiro por sob o telhado seu.
E eu, que já cansado estou -- preferiria repousar;
Mas nada disso há... Estão trocando de cavalos.

Ei-ei, depressa! Ainda temos um caminho longo --
A noite é úmida -- não se ve choupanas e nem luzes --
Cantarola o cocheiro -- a alma se desespera de novo --
Sobre o dia negro não há nenhuma canção.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Забудь недобре


Ставай, пригай -- веселий будь!
Забудь недобре все... Співай!..
Не застарів ще так твій вік --
Як птах крилатий, літай високо.
Під крилами своїми підбери
те все що бачить твоє око.

Ти не юнак, тай не старик!
Привик журитися... Чомуж?
Можеш казати що не сокіл ти. Так!
-- Липа, тоже не є каучук і гума,
а розтягається і гнеться. Я думаю
що коли липа гнеться, тоді вона
з повітрям тихо розмовляє. Тай
-- сама із себе і сміється!..
А вітер -- вітряну пісеньку,
для неї, буйливо співає...

Научися з тим хто більше ніж ти
про тебе вже знає. -- Твоя мати
Земля ненька, тебеж вона плекає.
Дає тобі пшеницю, дає воду свіжу
з тої глибокої криниці, що
колись її ізмалювали
скалічені руки й улюблені
чорні брови дівиці...

Не застарів ще твій вік.
Не журися!.. Співай, будь веселий
Земля твоя, твоя є пшениця.
Пий воду свіжу, твоя є криниця!..

sábado, 1 de dezembro de 2012

O sósia


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Двойник, 1862)

O sósia

Eu caminhava e não ouvia, como cantavam os rouxinóis,
Nem percebia como as estrelas começavam a brilhar,
Ouvia passos -- mas, de quem eram, eu não sabia,
Seguiam, acompanhando-me, no fundo da mata...

Pensei -- fosse um eco, um animal, balanço de juncos;
Acreditar não queria, gelava e de medo tremia,
Quem será que os meus passos seguia. Nem um passo atrasava,
E não era um homem, nem era algum animal -- Era meu sósia.

Então de medo eu queria correr, sem olhar para trás,
Mas algo fazia sentir-me vergonha. Criança não sou -- eu dizia,
De repente a raiva abraçou-me -- E, ofegante, eu perdi medo,
Quis enfrentar, sem importar-me de quem os passos seriam.

Porque me segues? -- Pereguntei. Tens algo a me dizer?
És tu uma miragem ou uma visão fantasmagórica e doentia?
-- Sim! -- Ouvi o sóia responder, -- Tu me atrapalhas a visão
E não permites que eu ouça e me entretenha com a da noite harmonia;

Com a minha própria suspeita, queres de mim livrar-te,
A mim -- que sou a tua fonte viva de poesia!..
E, sem tirar de mim o teu olhar espavorido,
O sósia meu olhava-me confuso e cheio de ansiedade,
Como se eu fosse um fantasma que. nas sombrias noites, acordasse.
Eu para ele... Não ele para mim como um fantasma se apresentou...

A canção georgiana


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Грузинская песня, 1846 - 1851)

A canção georgiana

Todas as noites, quando
sob a coberta de uma burca,
um sono profundo eu durmo,
até a estrela-d'alva raiar,

Visões paradisíacas
os meus olhos me trazem --
Em sonhos eu vejo
três lindas e esbeltas donzelas.

A primeira donzela
tem seus olhos brilhantes,
Nas noites escuras,
as estrelas,
não brilham assim;

A segunda donzela,
de sedutores cílios mais longos,
De um olhar penetrante
Os seus olhos mais se parecem
com os olhos de uma serpente.

Jamais, nessas montanhas,
houve uma noite tão escura
como o escuro dos olhos negros
da terceira donzela.

E com o despertar da aurora,
quando o meu sono se vai
-- Sem levantar-me, eu fixo
os meu olhar no azul celeste,

E olhando calmamente,
medito assim: Se eu pudesse,
Se dinheiro eu tivesse,
Construiria uma habitação!

À sua volta levantaria
uma muralha alta de marfim,
Aprisionaria dentro -- Comigo,
as três donzelas lindas.

E todas as manhãs,
e por todos os dias,
cantar-lhes-ia canções!

Da estrela vespertina
até a estrela-d'alva
admiraria os olhos seus!