sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A noite georgiana


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(ГРУЗИНСКАЯ НОЧЬ, 1846)

A noite georgiana

Ó, noite georgiana -- eu me embriago com os teus ares!
É muito agradável estar sob o manto de teus alpendres,
Repousar sob a coberta de uma acolhedora saclia natsval.

Sobre os tapetes macios deitado, sob uma burca peluda,
Nem ouço o latidos de cães, nem o relinchar de jumentos,
Tampouco o canto selvagem do triste tanger de tchinguri.

Adormeceu o meu amo -- apagram-se as luzes do alpendre --
A concha escureceu... A lua emergiu!.. -- fiquei contente
A gordura de cunjut, da minha lampada aldeã, se esgotou...
Outras lampadas se acenderam. Outras harmonias agora ouço.

Meu deus! Que ressonância! Ouço!.. Que pássaro aquele --
É pássaro noturno. Dos pantanais -- o som vem lá de longe.
Até parece o som de flauta. Entrecortado, puro e límpido,
Tom soluçante. Eternamente uma mesma e sempre a mesma nota
-- Repetida nos compassos similares... Tristes e chorosos
O som ecoa. -- Será ele o causador da minha insônia?!
Será ele o causador do sofrimento da minha alma?!
Sinto as pestanas se mechendo... Os pensamentos avançam --
Não se interrompem, como se ondas flutuam -- um após outro,
Despencando do alto das rochas, rio abaixo escorregam.

Porém, as ondas dos rios, não correm pelos desfiladeiros,
Subindo -- para atingir as alturas e unir-se com as ondas
Das imensidades de um mar! -- Não! Antes de o mar atingir,
Se apressam descer para os vales. Os vinhedos embebedar...
Os campos de trigo -- do mais antigo povo do mundo, regar.

E vós, meus pensamentos! -- Antes de irdes para eternidade,
No seu lampejo voador e querendo abarcar todas as miríades
Dos mundos..., -- Dizei-me: Por quem foi determinado a vós
Voar, de modo improdutivo, por sobre os espaços desse país.
País amado loucamente e -- pirogravado pelos raios do sol!

-----------------------------------------------------------

Nota:
Natsval -- autoridade maior do vilarejo
Saclia -- casa dos montanheses do Cáucaso
Burca -- capa de frio usada no Cáucaso
Tchinguri -- instrumento de cordas
Cunjut -- arbusto

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A georgiana


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo
Tradução do russo por Mykola Szoma
(Грузинка, 1846)

A georgiana

Pela primeira vez, ontem você viu a georgiana
          Sobre uma laje coberta de tapetes,
Ela vestida toda de seda agaloada, e escumilha
          Transparente cobria os seus ombros.

Hoje, empobrecida, sem véu -- emancipada,
          Deslisa pelos caminhos estreitos, montanhosos,
Por entre as brechas de muralhas, sobre cabeça
          Ela carrega um jarro, com desenhos adornado.

Oh, não! Não tenhas pressa. Meu viajor cansado.
          -- Não caias na tentação de pensamentos vãos!
Por entre as brechas, miragem não sacia os desejos
          Nem ventanias sussurrantes de sonhos enviará.

Caminho montanhoso na Geórgia


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Горная дорога в Грузии, 1846-1851)

Caminho montanhoso na Geórgia

Ando e sinto, é pesado o meu caminho,
Quão infrutíferos são os meus motivos!
Cavalos tensionaram seu peito,
A quentura do sol aqueceu os estribos.

E tu, que te mostras um guia afoito,
Lá de cima gritas para mim: siga-me!
Desde a tua infância te acostumaste
Aventurar-te com uma arma nos ombros.

Hoje eu acordei muito cedo!
Da natureza senti uma saudade --
Arcabouços de rochas de argila,
E dos bosquedos as copas caidas!

Tudo calmo, ausência de gentes...
Aqui nestas alturas é pesado estar.
Mergulhadas num sono eterno,
As ruinas mtuamente acotoveladas.

Dormem!.. Mal pode-se ouvi-las.
Nunca alguém, resposta delas ouvirá!
Jamais também, alguém com elas
Uma palavra alegremente trocará!

Será que não? -- diga-me velho guia,
-- Não haveria tradições?! -- Lançou
A mão sobre o chapéu, para tirá-lo...
Como sinal, Starik sua cabeça meneou.

Observo -- os riachos correndo --
Deslisam as espumas para os vales,
E nas límpidas águas dos ribeiros
Vejo cavalos atolados pelos joelhos.

Quisera, também, mergulhar nessas águas
Refrescar-me -- nas sombras do tempo.
Pular do cavalo... Mergulhar no riacho
-- Cruzar os meus braços. Tudo esquecer.

Da cela porém, não há como pular!
À esquerda -- paredão íngreme de rochedos,
À direita -- arvoredo e neblina profunda;
Das águas murmúrios. Dos ribeiros espumas.

Ser a seta, por um arco lançada, eu queria!
Saltar sem limites!.. Mas como, não há. Não!
O cavalo faz o seu trote com calma, certeiro
-- Cuidadoso pisando o casco nas pedras...

O cuidado também é conquista!
O cavalo assim, valoriza a si.
De repente -- Os ventos do sul
-- uivantes espaços propagam,
De longe, ouço a voz dum amigo
-- Algo parece querer-me dizer.

"Amigo! Por que
um caminho melhor tu desejas?
Apenas um só há..." Sem outros,
Cavalo! Andes como tu sabes,
-- Aqui, o teu dono eu não sou!

Quatro paredes


São quatro paredes.
Quatro paredes alinhadas,
Formando um retângulo na base.
Sustentaam um telhado
Envelhecido pelo tempo...
Uma fachada, ostentando ainda:
"Era um templo no passado".
-- Hoje, quase esquecido --
Embora ainda (poucas vezes)
Por saudosistas frequentado.

Quatro paredes, paredes são
E as paredes jamais falam.
Mas, se falassem as paredes,
Diriam elas o que? -- Diriam:
"... outrora fazia-se cultos"
Aqui, entre essas paredes.

Hoje, o desleixo tomou a conta
-- Tombou, entre as paredes,
todos os espaços... Por vezes,
Um "vendaval", de encontros
saudosistas, celebra os feitos
dos "atos" já desfeitos
nos registros memoriais!
-- Chamados de "Atas" gerais...

Ó, saudosistas!
Em vão proclamais.
Os feitos passados não voltam.
Ninguém se lembrará deles,
-- Perdidos que foram os seus
anais... Por entre as paredes,
agora circulam apenas os
ventos. Por vezes, também
As ventanias baloiçam
a poeira dos bancos.

Será que os bancos
-- Um dia, a sua história, sobre
as quatro paredes, aos ouvidos
de alguém contarão?! Lembrei-me:
Os bancos são de madeira...
Portanto, os bancos não falam,,,
Não!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Uma hipótese


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Гипотеза)

Uma hipótese

Repentinamente ouviram-se ecos de sons musicais da eternidade,
E eles fluiam, como se uma onda fossem, para a infinitude,
E pelo caminho eles se apoderaram de um caos, --
E nas profundezas abismais , como se uma tempestade,
fizeram rodemoinhar os luminares:

Como uma corda sonante cada raio seu vibra,
E a vida despertará -- sob essa vibração,
Somente nos ouvidos daquele -- não parecendo mentira,
Quem, a seu tempo, ouvir esta música divina,
Quem tiver a sua mente iluminada, e de quem fremita o coração.

(4 poemas)


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Вот и ночь)

E chegou a noite

Anoiteceu... À sua porta
Se aproximou, ele sem fólego:
Ele cansou porque atrasado?..
Ou atrasou-se porque cansado?

Tirour chapeu, sentou-se
E, pálido, olhou para a janela;
Com atenção, estava ouvindo
Um delirar apaixonado -- dizia:

-- Anjo querido! Descanse em paz
À tua porta jamais eu baterei...
Da tua lamparina eu vejo a luz.
Sinto-me enlouquecida -- E rezo.

Nem sei se por ti, ou se por mim
Apenas rezo. -- Não sei por quem.
Vejo teus olhos e neles não creio,
Nem em lamparina, nem em estrelas.

As estrelas, todas as estrelas,
Assim como o teu olhar celeste,
Ardem e penetram o fundo da alma
-- Ali veem e contam as mentiras...

Porque jamais, estas estrelas,
Dirão-me toda a verdade... Quem
-- agora, apagou a tua lamparina?..
Apagou, depois, apareceu na janela.

Se o reflexo da lua bateu na janela
E -- introspectivo, eu não percebi?
Ou da noite -- talvez os devaneios,
Abrasadores ruidos de silêncio total?

Mas também pode ser -- junto à cerca
O farfalhar de folhagens ao vento?
Não!.. Eu ouço todos os que eu amo
Ao som da minha divertida lágrima...

E, como uma sombra, da sua porta
Ele levantou-se, quase sem respirar...
Ele cansou porque atrasado?..
Ou atrasou-se porque cansado?

***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Время новое)

Novos tempos

Os ventos sopram em novos tempos -- Veja,
Nas asas os ventos trazem tempos novos:
Há quem, em brasa os seus olhos explode,
Como se o brilho estelar seu rosto tocasse,
Já outros, seus olhos e faces tombaram --
Como se nuvens escuras, as noites baixaram.

*** ***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Встреча, 1844)

Um encontro

Ontem nos encontramos; -- Ela parou -
Eu parei também -- Nos olhos nós nos olhamos.
Meu deus, como diferente ela ficou;
Seus olhos se apagaram, as faces empalideceram.
Em silêncio, por muito tempo, fiquei olhando nela
-- Ela estendeu-me a mão, esboçou um sorriso leve;
Tive vontade de conversar com ela -- Ela pedia-me
(assim me pareceu) que calado eu ficasse. -- Virou
de lado o seu corpo, mecheu as sobrancelhas. Tirou
a sua mão, e murmurou: "Adeus, até a vista";
Queria eu então dizer: -- "Para a eterna separação
Adeus, perdida, porém uma querida criatura".

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Вызов, 1844)

*** *** ***

Um convite

Do lado de fora da janela aparece
           Uma cabeça castanha.
Tu não dormes, és o meu sofrimento!
           Tu não dormes, marota!

Venha ao meu encontro!
           Dê-me um beijo ardente,
Juntemos coração ao coração
           Calorosamente nos abraçando.

Não tenhas medo de mim. As estrelas
           Cintilantes iluminam:
Eu te agasalharei com o meu casaco
           Para que ninguém te reconheça!

Se por acaso o guarda chamar-nos atenção,
           Responda-lhe que és um soldado;
Se perguntarem, com quem tu estiveste,
           Diga-lhes, que falaste com irmão!

Porém, se uma devota te vigiar
           Pois a clausura aborrece;
E a falta de liberdade involuntariamente
           Ensinará a esperteza e sabedoria!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Revele-te


Revele a tua face...
Mostre-nos -- a todos, quem tu és!
Saber queremos qual é a tua...
Embra parecer te queres
com o que não és...

Tens fala mansa. Predicas
sábias frases, em tuas preleções.
De fato porém, os atos teus
não correspondem aos ditos
-- dos teus ensinamentos.
Qual é a tua pois?
Tu sabes despistar bem!..

Já, outro dia, falei que percebi
comportamento estranho em teus
desejos preocupantes: Quando
-- porque razão não sei
Mudar quiseste o nome
da entidade -- Que tua
não era; Embora, a ti confiada o
fora... -- Melhor seria dito que
              de modo inocente,
              foi ela "jogada fora",,,

Naqueles anos -- Tu sabes quais.
A entidade serviu de base
a teus pés então cambaleantes...

Aproveitaste, cresceste em:
ousadia, conhecimento
e "malandrice" e
Uma rasteira, aos que te apoiaram,
de pé passaste. Quebraste
A ordem natural das coisas...
A quem chegou primeiro, atrás de ti
-- "furando a fila", deixaste!

Valeu de nada a tua ousadia.
Como fumaça, dos teus atos
a ventania tudo espalhou.
Onde está a tua sabedoria?.. Aquela
Da qual o Ego teu sempre falou?..

No tapetão tentaste derrotar:
os teus pretensos inimigos,
Os que quiseram se opor aos
teus "desígnios" malvistos.
Não conseguiste! Porém,
ficaste só e triste.
Falando para si,
Consigo mesmo e só!

A lua enamorada


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Влюбленный месяц, 1868)

A lua enamorada

A minha senhorita passeava pelos jardins,
Já era tarde da noite, quando ela andava --
Má sorte... Perdeu o anel de brilhantes,
Da sua branca mão, parece que deixou cair.

Ao deitar-se na cama, percebeu assustada;
Preocupada, procurou entre os lençois...
Não encontrou o anel -- sentiu-se furiosa,
-- A mim coitada, chamou-me de ladra.

De "ódio", não sabia eu onde esconder-me;
Se, ao menos, a maẽzinha estivesse viva --
Em defesa minha se poria!.. Saí ao jardim,
Olhei a lua iluminada -- Envergonhei-me.

Ouvi a lua -- cheia de brilho, murmurando:
"Não tenha medo de mim, linda donzela!
A lua, tal qual você, vagando pelas noites,
Não cai em sono, com as cortinas escurecidas.

Não por acaso eu saí esta noite -- Brilhei:
Observei muitas tristezas, muitas donzelas,
E quando a noite percebeu a sua senhorita,
Em alguma felicidade tranquila eu mergulhei.

Como se noite fosse, ela passeava pelos jardins
-- De ombros brancos, aberto o branco peito... --
Quem pode-me dizer, de mim teria ela saudade,
Ao derramar as lágrimas, sobre a úmida areia,?.."

Dentro de mim, estremeceu o coração ardente...
Enclinei-me por sobre o leito da estrada e vi
Não uma lágrima, mas um precioso anelzinho,
Então, à lua dirigi os olhos meus -- E disse:

"A senhorita minha com o amor não se encomoda,
Nem ela -- a bela formosura, por ninguém chora,
-- Muito dinheiro esse anel custou-lhe,
Um nome honesto pouco significado tem-lhe...

E você, pode iluminar a terra inteira, se quiser
-- Jamais terá o amor da dona de mãos brancas!.."
-- Pela face lunar prateadas lágrimas rolaram.
Eram lágrimas da lua. Ela sumiu entre as nuvens.

Daquela hora em diante eu, sempre tristonha,
Saio -- na varanda, solitária em lágrimas, --
Pobre da lua! Pobre da lua! -- Eu digo, --
Ao menos uma palavra, queria eu trocar com ela...

domingo, 25 de novembro de 2012

Embainhe a própria espada


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

(Вложи свой меч, 1870 .....Немецкому народу)
Poema escrito por ocasião do cerco de Paris.
A Batalha de Sedan foi um conflito travado
em 1 de setembro de 1870, próximo à cidade
francesa de Sedan, durante a Guerra
franco-prussiana.

Tradução do russo por Mykola Szoma

Embainhe a própria espada

Não sem razão criaste tu uma ordem, plena de força,
E educaste-te para a bravura:
Teu inimigo, prisioneiro teu, -- entregou-te a espada,
Como imperador -- deixou cair o cetro;
Armado da cabeça aos pés, te levantaste e fizeste perceber
Ao cego povo, de guerras amante --
Que ele, com as inquietações suas, poderia tranquilizar-se, --
Assim tu realizaste tudo, o que o tempo te apresentava.
Basta! O mal das guerras deve ter o seu limite...
E se há glória nisso -- o mérito é teu,
Serás, por certo, uma grande e forte nação,
Esquivando-se de bárbaras glórias
Sobre as cinzas das cidades, por entre corpos ensaguentados...
"Basta!! -- foi dito um pouco mais acima,
Desde a infância as mentes cultivadas por ti,
Da vizinhança de perspectivas imprevidentes. --
Basta ao pó, ao ferro em brasa e ao bronze,
Ao chumbo e à gusa, -- O seu ruído, o seu vapor e trovoadas
Rios de lágrimas derramam... Aos sons festivos de vitórias;
Os teus troféus -- emblemas de consternações,
São pesares e sofrimentos. -- "Basta!" -- Exclamaram todos
Todos, para quem o ideal
Só era a humanidade, a verdade, a liberdade... E tu
Em toda a tua brilhante magnificência e vozeria te envolvias,
Quando chamavas para o santo ósculo,
Pelos lábios de Schiller, todos os povos do mundo todo.

..............................
Tudo transformou-se! --
A tua juventude
Já não espera mais o universal amor,
As suas artes -- são artes marciais...
(Ensino fundamentado nos atrativos do manejo de espadas...)

..............................
E patriota só será aquele que
De sentimento seu
Desdenhosamente falar aos outros povos,
Que o próprio deus lhe outorgou poderes
Para o Oriente e o Ocidente germanizar!

.......................................................
Sob a tua respeitosa proteção, tu acolheste todo aquele
Que soube -- e teve a coragem de se opor a ti,
Aquele que se imaginou poder eternizar o despotismo
Mas ele mesmo tombou sob o próprio arbítrio seu, --
Por ti foi acolhido com respeito -- e, numa cumplicidade
Completamente desarmado, o seu povo (dele) foi mutilado.
Repleta de glórias perenes de amorais êxitos,
Obediente aos instintos primitivos,
Agora tu, como um verdugo, estás na percepção de todos,
Às lágrimas da vítima te mostras indiferente.
Pisaste tu a garganta sua,
Forçaste nela o espírito de mudanças,
Tu, como que num cadafalso,
Os seus trêmulos membros quebraste...
Do corpo gelado de mulheres, de velhos, de crianças
Desviando-te, causarás à Paris uma pilhagem total
Ou honrarás o seu funeral (deles) de sepultamento
E falsamente cantarás o hino ao rei dos reis?!.
Ó, povo esclarecido!
Ó, nosso grande iluminador!
Saiba, se acaso tombar a França, --
Da sua tumba emergirá um vingador.
Alcançará os teus limites, como serpente,
Fará compreenderes o que é o poder
De todas as ideias semi abatidas,
Que não puderam serem mantidas em sepulcros...
Ele, é a Nêmesis dos nossos dias,
E, para ti, -- jamais seria apenas um dos troféus
Terás de levantar coroas para todos os teus horrores, --
Com as mãos de milhares de pigmeus
Abrir milhares de "redes"...
Se por acaso -- e disto tens pleno saber,
As esperanças tuas depositas
No conhecimento da própria juventude, --
Tenha cuidado para que o conhecimento não definhe,
O mais depressa embainhe a espada e lave as mãos mãos,
Que foram sujadas pela poeira das trovoadas,
E pelo odor de sangue "enlameadas"...

sábado, 24 de novembro de 2012

Carruagem... /Na floresta.../ A tarde/Os sinos...


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В телеге жизни, 1876)

Na carruagem da vida

Eu me acostumei com a minha telega,
Para mim a estrada esburacada não é nada...
Eu sempre tremo, como se fosse um velhote,
Quando me encontro no frio ar da noite...
Algumas vezes, calado e pensativo fico,
E outras vezes, desesperadamente grito:
-- Saiste!.. Então, vas!..
Andes com toda a tua valentia!

Embora grite, xingue, ou lágrimas derrame --
Calado permanece, o obstinado cocheiro grisalho:
Mansamente chicoteando os rocinantes,
Com um trote regular ele os mantém andando;
Sob os seus cascos, ouve-se palmadas de lodo,
E, imperceptivelmente se agitando,
Eles -- os rocins, correm na escuridão da noite.

***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В хвойном лесу, 1888 Ф. ж.д. Райвола)

Na floresta de coníferas

Floresta, como se fosse fumaça de incensório
Toda impregnada de cheiro de alcatrão,
Exala uma putrefação secular
E o frescor da primavera.

O alcatrão, tal como as lágrimas, jorra
Da casca envelhecida das coníferas,
Todas com arranhaduras e feridas
Causados por facão e machado.

Com o aroma alcatronizado
E saudável, desssas feridas,
Eu adoro encher o meu peito
Durante as brumas matinais.

Eu também já fui ferido --
Ferido na alma e no coração,
Hoje espiro este veneno
Nesse frescor da primavera...

*** ***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Вечер)

A tarde
O brilho da estrela em extinção
Esparramou faiscas pelo espaço sideral,
Transparecendo-se nas águas resplandecentes do mar;
Silenciou pelos caminhos dos ribeiros
Dos guizos o ruido desafinado,
Dos vaqueiros o canto estrepitoso
Perdendo-se pelas florestas adormecidas.

Por entre a transparente neblina, cintilou
E rapidamente escondeu-se, uma gaivota gritando.
A branca espuma das ondas se embala
Sobre as pebras cinzentas,
Como se em berço estivesse
Uma criança adormecida. Como pérolas,
Refrescantes gotas de orvalho
Dependuradas sobre as folhas de castanheiras
E, em cada gotinha orvalhada, como que tremulando,
Estivesse o brilho da estrela em extinção.

*** *** ***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Вечерний звон, 1890)

Os sinos da tarde

Os sinos da tarde... Não aguardo o amanhecer;
Mas mesmo, sob os nevoeiros de dezembro,
Por vezes recebo os sorrisos de verão
Do refrigelado brilho das estrelas...

A todas as chamadas sem respotas
Tu te ausentas -- Ó, meu dia cinzento!
Todo ocaso não fica sem boas-vindas...
Nem sem sentido -- esta penumbra...

Os sinos da tarde -- Ó, alma de poeta!
Bendize tu, sempre todos os sinos...
Eles não são como os gritos do mundo todo
Que afugentaram os meus mais lindos sonhos.

Os sinos da tarde... Mesmo quando distantes,
Por entre o fragor das inquietações urbanas,
Anunciam sempre uma profética inspiração,
Ou talvez -- uma simples sepultura.

Porém a vida e o espectro da morte --
Ao mundo sobre algo eterno querem falar,
E por mais alto que tu cantes, -- E
toques a lira; Os sinos sempre repicarão.

Viver sem eles é possível. Mesmo um gênio
Será esquecido, como se fora tido um sonho,
-- Sempre haverá um mundo de novas visões,
De novos triunfos festivos e de funerais.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Na escuridão/ No paraiso.../ No jardim/


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В потемках, 1892)

Na escuridão

Acordei somente eu e -- tendo percebido mui precisamente,
A escuridão profunda ao derredor e -- não havia nenhuma luz.
E ouvi o coração, batendo ao som de whisky... Eu me apavorei.
Até pareceu que eu era um asno! Não via coisa nenhuma,
Não via janelas, não via parede, nem via a mim mesmo!..
De repente, por entre a surda e não correspondida penumbra,
Ali, onde as dissimulantes cortinas encobrem as janelas,
Com muita dificuldade consegui divisar uma turva mancha --
De luzes de um ceu noturno... como uma faixa bastante visível.
E esse ínfimo de brilho já me bastou, para que pudesse entender,
Que eu ainda não estava cego e que, embora nessa escuridão toda,
Tudo ao redor -- profeticamente, estava pleno de frias luzes,
Para que ainda nós pudéssemos aguardar as manhãs quentes...

***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В потерянном раю, 1876)

No paraiso perdido

.................................
Já no início a neblina esfumarada
Encobria todo o jardim do Eden,
E a folhagem seca e amarelecida
Espalhava-se sobre o azul Eufrates,

O pássaro do paraiso já não cantou
-- Da águia, as asas o perseguiam,
E bravamente rugia a valente leoa,
Quando sentia-se acuada por um leão.

O mal olhava a tudo com desprezo...
Mortal conquista! O mundo do prazer
Imaginando: Para as gerações mortais
A partir de hoje, um ídolo eu serei.

Eis que, na paradisiaco cenário,
Com o seu amor-próprio ferido,
Qual triste sombra, uma mulher
Pelo paraiso seduzida, caminha.

O flutuar das mechas ondulantes
Sem o querer, esconde os seios seus;
Quiça em resguardo dos pensamentos
Que da alma lhe abrasaram o caminho.

A mão lhe estendendo, o próprio mal
Levanta-se correndo. E já de pronto
Com voz macia, atinge-lhe os ouvidos,
Cantando a beleza de pecantes sonhos.

Mas quem lhe pode aferrolhar a boca?
Por que razão ele retorna ao passado?
E como poderia ser amedrontado aquele
Para quem, o próprio inferno é nada?

Queria ver as lágrimas, sorriso do paraiso,
Desfiada de orações -- de um pudor acanhado.
Mas, no olhar dela, o que se encontra? -- A
Irreconciliávelmente hostil contrariedade,

Sem medo algum.
Uma assim inimizade,
Jamais esperava-se do pó da terra,
Que contrastasse com o seu passado formoso.

As trovoadas do resplendor divino --
Aqueles relampejos, que dos ceus
Foram lançados -- estremeceram
O olhar dela. O demônio o percebeu!..

Entre as trevas escondeu-se como fantasma,
Em densas nuvens frias se transformou,
Como serpente, entre as ervas, deslizou,
E sobre os galhos dos arvoredos pousou.

Porém, o poder de indignação da ira justa
Não quis reconstruir o paraiso terrestre,
E fez diluirem-se no ar, as lágrimas
Das árvores do poder do mal e da sabedoria.

*** ***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В саду)

No jardim

No jardim estamos festejando a despedida do nosso ócio.
Adeus! Bebo pela sua saude, meu querido amigo! --
E em homenagem ao sol, que a todos aquece, sem queimar,
Também ao gelo parabenizo, e a este eexuberante arbusto
Que não conhece suas rosas prórpias, e a este cálice
Que não reconhece de quem lábios quentes ela ja tocou.
E o relampejar, e os sussurros, e esse balanceio
Dos arvoredos -- Tudo repleto de total desconhecimento;
E nós fomos condenados para festejarmos os sofrimentos,
Para reconhecermos a frieza e a ardência dos doenças...
Adeus! Ainda bebo pela sua saude, meu querido amigo!

Na sala.../ Sobre o.../ Na penumbra.../


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В гостиной, 1844)

Na sala de visitas

.................................................
Na sala de visitas, junto à mesa,
estava sentado o meu velho pai,
Sobrancelhas fechadas,
semblante austero, permanecia em silêncio;
Uma velha senhora,
trazia uma mal ajeitada touca na sua cabeça,
Cartomante era ela;
Ele, paciente, ouvia os murmúrios dela.

Mais distantes um pouco,
em silêncio, falando consigo próprias,
Duas mulheres gorduchas,
sobre um divã macio estavam acomodadas,
Duas mulheres gorduchas,
com os seus olhares me perseguiam
Os lábios mordendo,
com um sorriso zombeteiro
olhavam curiosamente o meu rosto.

Num canto escuro, de olhos azul claros,
permanecia cabisbaixa uma loira. Sentada ali,
ela não ousava levantar os seus olhos.
Sobre as pálidas faces suas
tremeluzia o brilho de uma lágrima,
Sobre o seu peito em brasas,
para o alto cobrindo a cabeça, havia um lenço.

***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(... когда над сонным морем, 1876)

Sobre o sonolento mar

Nos dias, em que sobre o sonolento mar
O calor sufocante e o silêncio dominam,
Pelos espaços enevoados das vastidôes,
As ondas quase não se balançam.

Se por acaso respira-se a voragem
Da ventania ameaçadora em seu vigor,
As ondas ameaçadoras ferverão mais
Do que as nuvens das chvas de verão.

E levarão, como se para batalha fora,
O cavalo enfurecido pelas esporas,
Refletindo nos respingos das espumas
O brilho dos raios solares da lua.

E esparramando-se por sobre os rochedos,
Estraçalhando, pelas costas beira-mar,
O agitado balancear das pelagens
Dos rumorejantes -- à beira-mar, caniços.

*** ***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В осеннюю темь)

Na penumba de outono

(excerto)
...................................
...................................
As tardes são todas brumosas --
As rochas umedecidas mofaram;
Não das florzinhas cor-de-rosa,
Nem das folhagens de bétulas,
Nem das cerejas orvalhadas à noite,
Exala dos ventos, nas matas, o frescor --
Sopram os ventos em nuvens condensadas,
Esparramando frgrâncias de tílias -- caídas,
Ou de pilhas de folhas de papel molhadas;
E o silêncio -- sussurrando, nos assusta.
Somente ali, além daquele rio vasento,
Existe alguma coisa má e impetuosa
Pela floresta, com um ruido estranho, correu,
Parecia até que da morte um susto levou...
Ora, o que há comigo!.. Alguma coisa de salvável
Ou, ao menos e simplesmente de consolável
Aguardar da floresta a escuridão,
Para o sono frio de um extasiado?
Pois que um outro, aqui de mágoa se afogue!..
O coração ainda pulsa. Almeja viver...
Um sentimento secreto, primaveril,
Que seja mais corajoso e mais sincero --
Que eu liberte a própria amada,
Sufocada pelas linguas maldizentes!
Seja ela -- a minha bela,
Uma órfã e jovem sem dote --
Casou-se forçada com um beberrão...
Ó, bebum! Eu te conheço, sanguessuga
Tu és meu mortal inimigo!
Tu a compraste baratinho, --
Mas eu a tomarei não por menos --
Nada de bom esperes... Não!

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Para o album de K. Sh.


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(В альбом К. Ш..., 1865)

Para album de K. Sh...
(Караманович Шалва)

Um Escritor, somente se for só ele,
Será tão só uma onda; Mas já um oceano
Será a sua pátria -- a Rússia;

Jamais será, sem nunca se indignar,
Quando indignada se mostrar a natureza,

Um Escritor, somente se for só ele,
Será o nervo vestíbulo-coclear de grande povo,

Jamais sentir-se-á não derrotado,
Se do seu povo for derrotada a liberdade (de novo).

Branca noite // Beda, o pregador


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Белая ночь, 1862)

Branca noite

Para longe foi dispersa a fumaça, soprou um frescor matinal.
Sem sombras da noite, sem lampiões de esquina, sobre o pálido Neva
A noite branca avança -- apenas se avista a cúpula dourada
Por trás dos palácios cinzentos, sobre a colunata circular,
Como se uma coroa mortuária pairasse frente à lâmpada votiva,
Que tremeluzindo, se destaca nas frias e silentes alturas.
Responda-me, ir para onde em busca da felicidade, do deleite,
Responda-me, por que estás bravo assim, meu amigo camarada?!
Eis aí -- um obscuro monumento erigido sobre o granito...
Ou talvez um pensamento -- sendo oprimido, teu
Na busca de uma salvação numa comiseração envenenada,
Tal como esta serpente de bronze
Sob o cavaleiro de bronze, espremida pelo casco
Do seu cavalo galopeador...

***

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Бэда-проповедник, 1841)

Beda, o pregador

Era tarde; Vestindo um traje amaçado pelos ventos,
Caminhava, pelos atalhos campeiros, o cego Beda;
Um seu braço apoava-se sobre o ombro de um menino,
Pisava cuidadosamente por sobre os pedregulhos do caminho,
Ao redor, parecia ser tudo estranho e tudo silente,
Erguiam-se apenas os seculares pinheiros,
Sobressaiam-se apenas tons cinzas de rochedos,
Vestidos de úmidos e peludos musgos.

O menino sentiu cansaço; desejou bagas frescas,
Ou talvez, simplesmente quis o cego enganar:
"Starik! -- disse ele, -- Eu vou um pouco descançar;
E tu, se o quiseres, inicies tua palavra a pregar;
Lá dos altos, já te viram os pastores...
Alguns dos anciães à beira da estrada se postaram...
E mais além, mulheres e crianças! Fales lhes de deus,
A respeito do seu filho, na cruz por nós crucificado".

O rosto do starik ficou radiante de repente;
Como se uma nascente irrompesse de camadas rochosas,
Dos seus lábios empalidecidos, vivas ondas fluiam --
Palavras de rica linguagem, de profunda inspiração,
Palavras tão sublimes sem fé, jamais haveria. Não!
Ao cego parecia os ceus se manifestarem em glória;
Ele levantava as suas trẽmulas para o alto,
As lágrimas, dos seus olhos apagados,
escorriam pelas pálidas faces.

Mas eis que a aurora dourada já está se extinguindo
E raios pálidos da lua por entre os montes se infiltram,
Por entre as frestas imiscui-se a noturna umidade,
Mas eis que -- o pregador pregando ainda, ouve uma voz
-- Era o menino o chamando; Dando risos e empurrando:
"Por hoje, basta!.. Vamos andando!.. Ninguém mais há!"
Calou a voz o velho starik. Meneou a cabeça.
Assim que ficou calado -- De um extremo a outro,
Ouviu-se: "Amen!". Estrondearam as rochas, em resposta.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

É linda a nossa varanda


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Как у нас хорошо на балконе)

É linda a nossa varanda
Ó, como é linda a nossa varanda, meu querido! Veja --
Lá em baixo o lago que brilha, refletindo as estrelas azuis;
Ali o cisne branco se acalentando, nos braços do seu ambiente,
Não se distanciando dele, tal como eu e você, meu amigo, comigo...
Quantas vezes você me queira explicar, que o ambiente próprio seu --
O mundo, e não do sol o calor, e não o meu peito jovem!
Tantas vezes, com você, eu não vou concordar.

Alegoria


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Аллегория, 1876)

Sou viajor -- As sombras me perseguem.
Eu as vejo durante as noites; E luzes,
Ao meu encontro, como que me acenando,
E de repente, como que ventos soprando
Apagam o brilho seu. E tudo se perde.
-- Será que ali uma estação me espera
Num qualquer cantinho apertado seu?..

Pois bem!.. Eu sei com antecedência --
O cocheiro descerá da boléia,
O sendeiro cansado será desatrelado,
Também, com o tremeluzir do abajur,
Num húmido silenciar mergulharão-me.
Dirão: Deita-te, nosso querido. Eis
O teu leito de madeira. Durma o sono...

E se, como eu previra que a paz chegasse,
Eu não quizesse -- deitar-me para dormir,
Então gritasse: "Força, velho encanecido,
Permita-me que ainda possa cavalos trocar!
Ouças então... Não queiras atrelar o rocim
-- Cavalos audazes, se eu pudesse galopar
Então eu poderia os que passaram alcançar.

Se de novo eu pudesse contra o peito apertar
Tudo, o que de nosso, o ano ruim açambarcou:
A liberdade -- a juventude -- e o amor, --
Para que, quando incendiado o leste todo,
Fosse me aberta a distãncia -- Que o dia novo
Pudesse dispersar, desta noite, as trevas
Que não assim, como fizeram essas luzes".

domingo, 18 de novembro de 2012

Ao A. A. Fet


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(Афанасие Афанасьевиче Фет)

Nota:
Poema dedicado ao Afanasij Afanasievich Fet
Афанасий Афанасьевич Фет (1820 — 1892)
Основные темы лиричных стихов Фета — природа и любовь.
Предметом лирики Фета становится душевный мир человека.

A temática básica da poética lírica de Afanasij Afanasievich Fet
-- natureza e amor. O objeto do seu lirismo foi o mundo da alma humana...

Ao А. А. Fet

Não, jamais esquecerei aquela chama de fogo matinal,
A que nós acendemos durante a nossa primeira travessia,
Lá nas florestas, onde cantaram e soluçaram os rouxinois,
E todavia passou o nosso maio -- e terminou seu tempo

Ó, esses rouxinois!.. De quantas bençãos foi aquele ano
Da pátria de viburnos e de abetos foram exilados
Para a terra na qual não há espaços nem para as nevascas.

Ali, onde mais quente é o sul e mais claro é o leste,
Ali, onde as espumas são mais velozes e com murmúrios adocicados
Deslisam silentes por sobre as preciosas pedras dos regatos,
O vento esparrama o perfume das rosas, respirando o aroma,
Enquanto no inverno da nossa primavera esfriou até o vestígio,
Ali -- estão aqueles rouxinois. E com eles, o próprio Fet...

Compreendeu ele em seus momentos de sábedoria que,
Se os anos nos conduzem sempre ao inverno, então
-- Retornos à primavera jamais queiramos ter,
E -- decidiu voar, seguindo os rouxinois.
Eis que me sinto intrigado: Nosso poeta, o rouxinol,
Amante de rosas perfumadas e de suas folhagens,
Encontra-se encoberto. Áquela primavera canta saudações.

Ele venera a beleza e os encantos. É um enamorado
De estrelas e de tempestades, que acorda os sonolentos ares,
E de nuvens cinzas, e daquelas distâncias taciturnas,
Para onde se trasladam os pensamentos, e as consternações,

O bando de fantasmas extravagantes e surpreendentes,
O leve suspiro de rosas perfumosas.
Encantadas meditações as nossas dores não conhecem:
Nem todos os males do dia, nem os pensamentos perturbados,
Nem as preocupações, nem as mentiras,
-- Em relação a tudo exacerbadas,
Nem derrotas, nem virórias.

Sempre aquela chama, que nós um dia acendemos,
Não se apaga nunca para ele e, no crepúsculo do ocaso,
Ele vislumbra da noite os espectros, que conduzirão
A sua sussurrante discussão das matas para o exílio.
Ali miriades de estrelas navegam sem cobertura,
E aqueles rouxinois lá cantam e soluçam suas canções.

sábado, 17 de novembro de 2012

Bendito o poeta encolerizado


Полонский Яков Петрович (1819 - 1898)
Jakov Petrovič Polonskij
Prosador e poeta russo

Tradução do russo por Mykola Szoma
(blazhen ozloblennyj poet)

Bendito o poeta encolerizado

Bem-aventurado seja o poeta encolerizado,
Mesmo que seja ele moralmente mutilado,
Coroa de louros e honras sejam lhe dados
Pelos filhos do século exacerbado.

Como um gigante ele agita as trevas,
Querendo achar saidas, fresfas de luz,
Não acredita mais nos homens, mas à razão,
E dos deuses nada espera por solução.

Com as estrofes de suas profescias
Ele perturba o sono dos homens do poder,
Embora o próprio sofra sob o jugo
De evidentes contradições em contraluz.

Com todo o ardor e ímpeto da sua alma
Amando, ele não se mascara para ninguém
E por nada, por que se vender possa --
Ele não se troca, por nada, com alguém.

O veneno está no íntimo de suas paixões,
A salvação -- na força da própria negação,
No amor -- a nascente para as suas idéias,
Nas idéias -- a saída para os sofrimentos.

O grito seu involuntário -- o grito nosso.
As suas vilanias -- são nossas vilanias!
Juntos com ele, bebemos nós da mesma taça,
Como se um de nós foi exilado -- E é maior.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Não te percas no passado


Não te partas de saudades,
Esmigalhando o teu coração.
Tenha na lembrança os dias
que já se foram -- Quem
sabe até os melhores
da tua existência.

Pense!.. Outros dias virão...
Não poderão apagar os já idos
Porém, novas surpresas
De impacto maior
dar-te-ão.

Viverás alegrias maiores.
Não te percas no passado.
Não!..

Salve o dia em que nasceste!
Foi maior em que aprendeste
a soletrar o "bê-a-bá",
a mergulhar na fantasia,
embaralhando a silabação
do ba-be-bi-bo-bu da poesia.
Ao palvreado dar a forma
de uma homérica construção!

Já percebeste que o passado
Por melhor que tenha sido,
Não tem poder de volta. Não!
Não te partas de saudades
Elas machucam o coração.
São tempestades traiçoeiras
Que afogam a vida na paixão!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Não mais do que tarturfo


Amargurados serão os dia
dos que semeiam as desavenças.
E, não porque são semeadores.
Porque são maus em si --
Em seus propósitoss são maus.
Nada mais fazem que desavenças!

Aos olhos meus,
não há quem deles preste.
Por mais "sensatos" que se pareçam,
sempre serão não mais do que tartufo.
Não passam de Le Tartuffe de Molière.

Costumam ler provérbios dos outros
-- Sobre diversos temas, são mestres
em ditados populares. Do seu em nada
se aproveita... Imitam tudo!
São copiadores exemplares...
Expetaculares em seus manejos casuais
De pronto deitam os inimigos virtuais.
E quem se lhes oponha
não terá tempo --
nem ao menos, de deixar os seus sinais!
No fim das contas, eles são os tais.
Comigo porém, não se faz menos por mais!

Um dia desses, um destes falou-me --
Disse que a vida deu-lhe favores que
-- por razões não sei quais, a mim
por completo negou-me. A sua conta,
das que se chama de conta-corrente,
é mais polpuda do que a polpa do caju.
-- Dei-lhe um sorriso tridente...
E, para não me sentir mais por baixo,
Disse-lhe: Veja! Ainda tenho todos os
meus trinta e dois dentes!
Menos alguns. Os que falta não fazem!
E falo a verdade. Já fiz a triagem.

Meus olhos são puros cristais.
Não são naturais. Já foram trocados.
Enxergam mais longe que os de águia.
-- Oftalmo me disse,
que sairam já da 'forma'
totalmente treinados... E adaptados!
Mesmo sem uma conta-corrente felpuda
os farois do rosto foram reformados.

Tomo banhos quentes fodos os dias --
Também, aos domingos,
aos sábados e aos feriados.
Não pago aluguel
-- Tenho imóvel próprio
Assisto Malafaia
Pela manhã aos sábados;
Pela noitinha "Viola, minha viola".
Todas as tardes da semana
"Gotinha de amor" ao lado do meu Amor.

Ao começar o dia,
ao lado da dona do meu coração --
eu e ela, lemos um texto sagrado. Depois,
elevamos a nossa prece em uma oração.

Levanto os olhos


Федор Сологуб.
«Поднимаю бессонные взоры» - 1896)
Fyodor Sologub
(Fyodor Kuzmich Teternikov, 1863 - 1927)

Tradução do russo por Mykola Szoma

Levanto os olhares

Levanto os olhares sem sono
Para os ceus, expulsando o luar.
Alumio os celestes ornamentos
Prevejo o futuro com as estrelas.

Coleciono todos os silentes medos
Pelos extensos campos e florestas
Acordo todas as ameaças perigosas
Que possam perturbar a inspiração.

Cerquei-me com sonos ligeiros.
Num silêncio sombrio esqueci-me.
Floresci em pensamentos noturnos
Numa inanimada alma universal...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Escamotearam


Quatrocentos e nove registros de atos
de meio século de história se foram!
Perderam-se no labirinto das futricas
de guardiães da fé. Em que? Não sei!!
Só sei que escamotearam os trilhos,
daqueles que passagem antes deles,
abrindo-lhes os caminhos...
Não lhes deram o valor devido.
Por sobre o passado seu, fizeram
um inusitado "arrasta pé".

E acredite, quem quiser!
Estava eu lá. Eu vi!
Nada falei...
Contribui!
Narro os fatos agora
Não porque pretendo me redimir; Mas,
para que saiba a posteridade
de como se move a "humanidade"
quando se entrega nas mãos dos
-- fariseus
-- pretensos patriarcas
-- defensores da fé
-- falsos letrados
-- os que soletram textos
-- não sabem conjugar o verbo e não
entendem dos espanhois o silabeo...

Alguém pergunte-me agora:
"Foi isso que aconteceu?"
Não sei! Posso dizer apenas que --
O registro dos atos, de meio século
de atividade séria, dos que estiveram
aqui antes de nós, se escafedeu...
O tempo exato -- na ponta do lápis
São trinta e oito anos.
Onde foram trancados? Em que armário
E ao sabor de que café?
-- Jamais se saberá.
Se fez o fato ser oficial, até.
Pois é. Dizem que é pura questão de fé.

E tudo se fez novo. E de novo! Por que?
Ao sabor das ventanias do querer,
Das sabedorias -- Das vontades,
Das visões humanas de ser...
De poder, melhores que as dos outros,
obras sempiternas construir... Então,
O que se mostra-nos ser antigo, se deve
demolir, demolir, demolir e demolir.
Vivemos em tempos consumistas;
Portanto, o tempo se presta a consumir!
O que se diz história,
se presta ao demolir -- Para,
em seu lugar, algo de nosso construir!..

Já que temos idéias parcas --
Esqueçamos, por instantes, que
somos filhos dos que se foram
e durmamos tranquilos o sono
de calmarias. Esqueçamos que
fomos criados com dignidade dos hiparcas.

domingo, 11 de novembro de 2012

Lembrando o passado


Poeira do meu caminho,
Espalhei por onde passei.
Nunca pensei que poderia
-- o que encontrei,
encontrar... Até duvidei!

São coisas da vida...
Muitas das quais, nem sequer
quizesse imaginar, imaginei!

Amigos, inimigos. Todos
-- aos montes, unidos caber
não poderiam na palma da mão.
Alguns se dizem irmãos. Mais,
outros mais chegados, parecem
não conhecerem-me... São mais
que inimigos: Torturam-me
até o âmago do coração!..

Porém, são coisas da vida.
Sendo assim, não tem nada.
Não! Outros há que insquecíveis
para sempre serão...

Sentamos num mesmo banco.
Esculpido em madeira. De pinho
-- de táboas aplainadas, que
Não dão nenhum conforto. Não!
Dispostos em fileiras.
São bancos, que no passado,
Eram os bancos de comunhão.
Cinzelados que eram pela fé
do ancião Anton Kowalzetsky
Hoje:
"Descanse em paz, irmão!"

Você foi um de tantos
Que cruzaram o meu caminho.
Seus filhos o respeitaram,
tratando-o com carinho.

A sua palavra sábia
foi-lhes o luminar da estrada.
Sob a batuta da sua mão forte,
foi-lhes possível erguer aqui
o "suporte de partituras" Para
entoar canções de exortação
da vida plena. De Amor em Deus
e do seu Reino de formosura!..

Rendamos-lhes as homenagens.
-- Lembramos de vocês:
Anton Kowalzetsky o Carpinteiro
Ivan Kowalzetsky o Maestro e
Pedro Kowalzetsky Sanfoneiro.

sábado, 10 de novembro de 2012

Як вітер віє


Вітер як віє
Вітрило працює,
Вітряк зворотається,
Море бурливо бушує й сміється...
А моряка серце вмирає від страху
-- Для нього, це хвиля незгоди
з погодою до неугоди дійдеться!

І так воно є...

Небо під чорною хмарою вкрито...
Ліси не говорять -- Замовкло усе!
В лиманах зелені кольори жовтіють
А гори розпались неначе той попіл
Під вітром розвіялось листя. А що
-- хтось може сказати, є оце?

А що ж далі буде?
-- Я питаю тебе! Скажи.
Як що знаєш. Як що хочеш сказати.
Я ж бо питаю тебе!

Там за горою вітри гуляли.
Степи широкі вимітали.
Червоним поясом стовпи в'язали
Сміття з подвір'я вибирали.
Тай на сопілку -- не вміли грати,
буцімто грали. Брехали!. Не грали.
Не вміли грати... А сопілку
у сопілника украли.

Сопілку вкрали.
Сорочку -- одну лишень він мав,
на кусочки розірвали.
Крениченьку з водою, що він мав,
Зацементували... Сказали:
Тоді як вітер віє,
Вітрило працює,
Вітряк зворотається,
Море бурливо бушує й сміється...

Sereia


Владимир Владимирович Набоков. «Русалка» (1919
Vladimir Vladimirovich Nabokov (1899 - 1977)
Escritor e poeta russo e americano
Nasceu em St. Petersburg (Rússia)
Faleceu em Montreux, Switzerland.

Tradução do russo por Mykola Szoma

Sereia

Era a fragrância da gigante lua crescente
Propagando-se pelo frescor da primavera.

Cambaleava, enfeitiçando o azul da noite,
O transparente veu, pairando sobre o rio.

Tudo silente e frágil. Apenas juncos e só,
respiram. Enquanto os morcegos se distraem.

A noite está cheia de encantos feiticeiros.
À minha frente, vejo o rio como um espelho.

Observo e percebo -- A vasa parecendo prata,
E as estrelas -- Como pingando sobre o chão.

Observo e percebo -- Por entre a neblina,
A sereia flutuando nos galhos dos pinheirais.

Ela levantou os barços, estendeu as mãos,
Queria tocar a lua: Não conseguiu! E caiu.

Sobressaltei-me. Gritei: Ei, nade por baixo!
Ecoaram, como se afinadas, as correntes do rio.

No rio, apenas um brilhante círculo de luz...
No ar, por entre a neblina, perdeu-se uma voz.

Все в епоху свою


Все в епоху свою.
Іліада колись --
часи Гомера не вернути;
Лузіада пізніше --
Камоенс спочиває в епічному раю.
Ренесанс іспанський має романс
-- епічний прозовий вірш:
Дон Кіхот Ламанчский
Мигеля де Сервантес.
Україна має Шевченка.
Його слово чисте як бліда вода.
Випливає із самого серця
простої людини. Свята істота!..

Парнас -- поетична гора.
Там живуть музи -- там ілюзія одна!
Там живуть гноми. Були колись дракони
-- такі як бугаї; Тепер їх там немає.
Міняються часи та й з ними все, те що
є живе, тоже переміняється.

Ось так, все в епоху свою
записує свою історію
Словами часу свого.
Все в епоху свю!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O meu ceu


Микола Степанович Вінграновський
Mykola Stepanovych Vingranovsky (1936 – 2005)
Cineasta Diretor e Poeta ucraniano.

Tradução do ucraniano por Mykola Szoma

O meu ceu

No ceu azul plantei a minha floresta,
Ali no ceu azul, está o meu amor querido,
A minha floresta é de bétulas e de carvalhos,
O meu ceu azul é de carvalhos e de bétulas.

No mar azul eu semeei todos os meus sonhos,
Nos reflexos do horizonte, do mar azul,
Eu semeei os sonhos da tua primavera,
No mar azul todos os sonhos da tua primavera.

Aquela floresta romperá o silêncio. E os sonhos
Mostrarão o teu vulto no ceu e nas ondas azuis,
Sobre as nuvens do ceu, sobre o azul do mar...
Mostrarão o teu vulto e -- Depois, cessarão.

O meu cajado de carvalho. O passeio vespertino,
Comigo ao meu lado e contigo, passarada e flores,
Pelo caminho, o ceu -- que é teu, por sobre nós.
O nectar do teu amor... É longa a estrada minha!

Дрімають


Горізонти дрімають!
Замовкло усюди...
А люди співати забули
-- Друг друга, якщо
іще можна отако й сказати
Вбивають своїми руками...
Питають тоді:
А що ж це оце?.. Буцімто
вони ж самі не знають!..

Томуж і питають.
Неправда! Вони добре знають.
Знають тоді як брат брата
в повазі не має, то стануть
в'язницею кожний другому!..
Спокою тоді вже не мають
у своїм (чужім) дому.

Горізонти дрімають!
Поза хмари сонце сховалось.
Вітри не віють.
Журавлі не літають.
Листя дерев не зеленіють...
Ліси, лани та всі холми
-- в моїх поемах, не вибухають.

А люди. брати чи ні, не знають!
Томуж і не питають:
"А ти що пишеш?
Про тебе знають?
Слово твоє плекають?"

Нехай не знають...
Прийде година... прочитають!
Та й може привітають.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Apenas seja você


Não seja!
Você já é...
Não veja!
Você já está vendo --
O que o mundo é,
O que os outros são;
O que você não é,
O que você não poderá ser;
O que os outros não verão em você,
O que, de você, os outros jamais terão!

Assim terá menos desgaste como ser.
Perguntas não fará "Eu devo, ou não?",
"Porque eu quero em não me querer?..",

Dissolvo-me nas sombras do ingógnito
-- ao invés de um viajante do além mar,
pudesse me tornar em não perdendo tempo
a tais perguntas responder!

Se o mundo é, eu também sou.
Se os outros vão -- Paro e medito.
Não me convém, não vou! Destarte,
a arte do artista é a sua criação.
Plagiado de lápide fria
não me agrada, não!
Sucumbam todos!
Eu, não!..
Sigo a sós o meu caminho.
Haja vendavais, ou não...

Não seja!
Você já é...
Eu também sou!

Ele está dormindo


Микола Степанович Вінграновський
Mykola Stepanovych Vingranovsky (1936 - 2005)
Cineasta Diretor e Poeta ucraniano.

Tradução do ucraniano por Mykola Szoma

"Ele está dormindo"

"...Estais vendo? Sim -- ele está dormindo..."
...Estais vendo? Sim -- ele está dormindo!
Eu espero por vós, camaradas. Sois um período!

Não vos permita Deus que o acordeis em mim...
Não tenhais pressa, usufrui-me aos poucos,

Primeiro os lábios, as mãos, depois a face,
Depois os olhos, os pés, por fim os rins.

Parece-me que de supérfluo eu nada tenho --
Eis tudo que possuo... Tenhais certeza disso!

Levai-me já! A hora está chegada!
Ao raiar do dia, uma nave alada virá buscar-me.

Direis a ela: "Ele ausentou-se".
Por longo tempo -- Para sempre!
Entre nós não estará mais. As suas mãos
o abraçaram... Cruzaram-se fielmente...

Direis a ela: -- Na madrugada me encontrastes --
Eu reclinado, estava ouvindo as batidas do coração.

Mais uma coisa! Talvez insignificante:
-- Guardeis para os poetas os meus olhos.
As minhas mãos, entregueis ao aviões...
Os rins, aos ventos... A face, aos ceus azuis.
Os lábios meus, às ondas e aos novilhos,
Os pés, às flores; para que as flores andem.

Isto é tudo... Por fim, um ramalhete
de "orquídeas" Ora-pro-nóbis amarelas e vermelhas
Presenteiem a mim...

Estais vendo? Sim -- ele está dormindo!..
Ele está dormindo, o meu animal!
O lindo animal do meu coração!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um maltrapilho


De maltrapilho,
não só a imagem.
De maltrapilho,
também a existência.
Não tem um canto onde apoiar-se
Nem repousar dias cansados seus.

Perambulando pelas ruas, procura
e não encontra -- o que lhe deu,
sem compromisso, a natureza fria
-- a vida digna! Ele a perdeu...

Nem sabe como. E foi, quando
descautelosamente nasceu.
Ali naquele canto,
por desencanto
desprevenidamente, a mãe
o concebeu. Depois... deixou
a sós -- Partiu. Fugiu, esqueceu!

Ele cresceu maltrapilho,
Vagando pelas calçadas,
procurando algo que não perdeu...
Algo que poderia ter sido seu
Porém, não recebeu, de quem a
Vida desprevenidamente lhe deu...

Perambula também a sua existência
Refletindo, da sua alma, a imagem
no seu corpo tombado em falência!

Será longa a sua permanência
como um buscador de si mesmo
durante o estado de ser tão
somente um maltrapilho da
sua própria existência?

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Amor não é paixão


Não é paixão.
É crepitar de brasas.
Será que você sabe o que é?

Também não pode ser saudade
-- Saudade quando bate
Aperta o coração!
Estrangula a garganta.
Retira o fôlego do peito
Estraçalha a alma da gente
Tira da lembrança tudo,
e vocẽ fica não sabendo
quem voce é...

Você não sabe o que é saudade
de alguém que há tempo
já não se vê.
De alguém que alimentou sonhos
tal qual você.

Não é paixão.
É crepitar de brasas.
Você não sabe o que é. Por que?
Porque nunca amou de fato.
O seu amor não foi incadescente.
Senão teria queimado as entranhas,
Amalgamado os valores,
Destruido as normas e,
Construido os dissabores.

Não é paixão.
É crepitar de brasas.
É indomável e é mais forte
que todas as paixões do mundo!
Por vezes triste e insuportável
Que queima o ser e a alma.
É crepitar de brasas.
É o amor afável
-- O contraponto de indomável!..

Se deu assim


Não são saudades do passado...
Portanto, saudosismo não pode ser.
Apenas refletindo as coisas como andam
-- Os que constroem, também destroem!
Vejamos a história, de um grupo
que se dizia: Nós não teremos
jamais um fim! Se deu assim:

Se uniram. Se organizaram.
Cotizaram-se os meios... Construiram.
Eram anos cinquenta. Irmãos fluiram!.
Fluiram cantando músicas da pátria --
Doçura celeste efluiram.
Um templo erigiram.

Cantavam Glórias! Progrediam...
Venerando o sacrosanto nome de Deus
A Sua Palavra de Vida difundiam...
Unidos na fé, cada vez mais cresciam!..

E perseveravam na doutrina,
e na comunhão, e no partir do pão.
Em toda parte havia temor,
E muitas maravilhas e sinais se faziam:
-- Havia um coral misto,
-- Havia um coral masculino,
-- Havia uma orquestra de cordas:
violino, banjo, bandolins e violões.
-- Uma sanfona Scandalli de 120 baixos.
-- Um Maestro regente. Sabia cantar!
Ensaiava as quatro vozes, fazendo
as vezes das suas funções.

O Pastoreio foi mudando.
Aos poucos, a história foi se interrompendo.
O farol da barra do horizonte se apagava.
Algo novo, subrepticiamente, se apresentava!
Anos setenta terminariam uma maratona de
Mestres, que fixar-se não conseguiram, Todos,
um a um -- como se fila indiana, partiram.
Cada um cuidar de si... Assim, preferiram!
Havia um. Não era mestre, nem mestrinho...
Porém esperto como só ele era. Se proclamou!
Ganhou e submeteu a si o que restou.
Assim, a história degringolou.

A planta que tinha tudo para crescer
Murchou. Quem a plantou
Jamais teria imaginado em pensamento
um fim assim indigno do nosso momento!

O relato desse poema
Não passa de uma tragicomédia abstraida
da real vivência -- de alguns, do palco
da vida... Poderia ser melhor usufruida!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Estado de suspensão


Estou aqui pensando
nas coisas da vida.
Um rosário que se desfia.
Parce um "novelo de lã".

Poderia pensar que fosse
o nome de uma canção.
Não é! Mas é um nome
sugestivo! Será que
a própria vida não
seja uma canção?

Talvez o seja.
Talvez, eu e você,
possamos dela fazer
trechos em pizzicato,
seguindo-se por um
staccato...
Entrar em um estado
de suspensão.

Bem entendido --
Em partiruras de melodias
de violinos, violoncelos,
de violas-gambas e a fome
(ex-) de Vincent Van Gogh.

Mia!.. Você não é gato.
Faça de conta que não. É!
Os gatos vivem melhor que
Eu e você juntos. Por que?

Porque miam. Porque são o
que são -- Gatos. E só!..
Não precisam falar. Não!
Não precisam tocar --
violinos nem violoncelos,
nem violas-gambas. Apenas
precisam miar! Só miar!..

O tempo voa.
A garoa umidece os ares.
Não demore mais. Venha já!
Todos desfilam aos pares e
os gatos, também. Somente,
eu e você, ainda
Não aprendemos a miar.
Entramos em estado de
Suspensão antes do tempo?..

sábado, 3 de novembro de 2012

Parado?


Estou aqui.
Parado?.. Quase sempre.
Sentado. Algumas vezes.
Esperando algo
que se faça
por mim.

Talvez,
para mim!.. Não sei!..
Meu filho perguntou-me
"Por que eu sou assim?
Não me pareço com você
-- E poderia? Sim?.."
Também não sei.

Disseram-me:
Assim
a vida é. As vezes
As coisas parecem ser
de um jeito
do jeito que a gente
não imagina e nem quer!
Na maioria das vezes
independem do nosso
"ínfimo" querer.

Por causa desse dito,
eu continuo estar parado.
Se me sentasse, por acaso,
eu poderia ter-me levantado?
Algumas vezes, talvez não!..
Em pé a espera é mais veloz.
De fato, cansa mais!
Mas vale a pena
esperar parado do que
morrer em vida
pensando que se está sentado!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A gente sente pensando


Sentado
Teclando "Keyboard".
Digito as letras do nome.
Dizem que é teclado chiclete
-- parece mais chato
do que a rouquidão
da sua voz...

É retangular.
Tem formato de losango
e pode ser mastigado
como a castanha
de uma noz.

Era assim nos primórdios
do PC. Pode-se dizer:
No tempo dos avós.
É claro, seus.

Os meus, escreviam cartas
com grafite apontado
sobre folhas de
papel couché.

Hoje já se usa o teclado
"Free Virtual Keyboard"
que cabe num pendrave,
acelerando a entrada
do texto no PC...

Um teclado
que sempre estará
lá onde estará você!
Eis como as coisas mudam:
Com o fluir do pensamento
que a gente "sente"
-- pensando, mas não vê!

Ainda um reverendo em foco


O mestre reverendo
Aquele que durante as noites
No decorrer das calmas madrugadas
Navega pelos espaços siderais
Com seu binóculo de garnde ocular
Procura algo desvendar.

Cá entre nós --
Ele se acha mais um capataz do
que um venerando (e perspicaz)
Guia de massas...
Porém, não me profano --
Mesmo assim, salvo engano,
é muito sagaz.

Por entre os dedos,
a sua fala se transparece
como se fora uma tiara sacerdotal.
De fato, o mundo dele é um sonho
Erguido como se ergue um castelo
de papel amorfanhado... É irreal!

Por "reverendo"
aqui entendo "um respeitável" ancião.
E não tão velho, que se apoie
numa bengala de junco. Não!..
Mas de ornatos prosopopéicos,
dos garimpeiros da ilusão.
Até depois! Chega, por ora!..

Binóculo não tenho
Porque -- então, eu deveria explicar
As noites não dormidas, do navegante
Notívagando pelas estrelas
Das calmas madrugadas?

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Um poema româtico


Alegria no rosto
Um largo sorriso nos lábios
O seu corpo gingava
Ao som de uma valsa
-- queria pensar
fosse uma marcha
a Marcha Nupcial.

Você zaguezagueava pelo salão
Descrevia senoides circulares
-- Era o Baile de Formatura.
Ninguém se comparava com você!
Você e só... Sem mais rival...

Você nem parecia ser você.
Era outra.
Eu sufocava a muito custo
a dor e a saudade:
Um dia você foi minha. Depois,
Porque razão, não sei dizer
Nem quereria que alguém
soubesse a razão.
Não é por nada, não! Apenas
Para não maltratar mais
o coração. Concorda!? Não?

Era a valsa de formatura.
Você bailava nos braços
de alguém outro. Não era eu.
E era um sonho, com toda
A sua -- de ninfa, formosura!

Унгарський танок


Унгарський танець грали
Аугсбурга військо --
Трагедія народу?
-- "унгар". Ні! Не так.
Це гармоністи
П'ятий Концерт виконують.
Це Йоган Брамс та його
Венгерський танок 5-ий...

А люди слухають. Кохають!
Online. Безплатно скачай
MP3 як забажаєш.
Без регістрації в
Get-Tune.net. Я думаю що
Ти уже про це і знаєш.

Я слухав запис
-- а під запис грав
камерний оркестр
"Irish Chamber Orchestra".
-- Я слухав і кохав!

Hoje é assim


Primavera.
Previsões de chuva.
Que nada!
Umidade do ar abaixo dos 30.

Não se usa mais gravata.
As camisas, que se usam,
não têm gola nem colarinho.

Os alunos vão à escola --
Alguns sabem mais que o professor!
Não das coisas que deveriam,
Mas de fazer pirraça.
Sim snehor!

Ontem, numa cena de novela,
Se beijava um casal de "pombos".
O neném, que apreciava o quadro,
Disse "Que fartura de insapiência"
"A mamãe beija o meu popô
Com mais sabor e com prudência!.."
Ufa! Se o fizer
Na hora da incoveniênia!

Por hoje é só!
Cabrice não me assusta.
Quando quiser um livro usado
Não duvide! Vou buscar num brechó.